O refém deixou o hotel em um carro de polícia e passou despercebido por
hóspedes e curiosos que acompanhavam o caso na rua em frente. Segundo a
corporação, o funcionário foi direto para casa acompanhado da esposa.
Ele estava calmo e não precisou de atendimento médico.
De acordo com a polícia, a arma e os cilindros amarrados à cintura do refém não continham material explosivo.
Segundo o comandante do Esquadrão de Bombas da Polícia Militar do
Distrito Federal, capitão Lúcio Flávio Teixeira Júnior, o material era
composto por canos de PVC recheados com massa epoxi, serragem e terra.
Policial manuseia supostos explosivosde autor de sequestro em hotel do DF (Foto: Polícia Civil/Divulgação)
"Medida desenfreada"
O advogado do autor do sequestro, Carlos André Nascimento, chegou à
delegacia por volta das 18h30. Segundo ele, o cliente classificou o ato
como uma "medida desenfreada" para "chamar a atenção da imprensa".
Nascimento disse que o sequestrador tem problemas psicológicos e que,
segundo a família, tentou suicídio há poucos dias. O advogado acompanha o
caso desde as 12h desta segunda-feira (29), acionado por familiares do
autor.
Ainda segundo Nascimento, o preso será transferido para o Departamento
de Polícia Especializada (DPE) porque a polícia teme nova tentativa de
suicídio. Até as 18h40, a polícia não tinha se pronunciado sobre a
transferência.
Um helicóptero da Polícia Civil sobrevoava o hotel no momento em que as
negociações terminaram. Segundo o delegado Paulo Henrique Almeida, da
Divisão de Comunicação da Polícia Civil, o homem solicitou uma bandeira
do Brasil para usar sobre os ombros no momento da rendição, mas se
entregou com medo de ser alvejado pelos policiais. "Ele percebeu que a
única saída era a rendição. Graças a Deus a vítima está bem", diz
Almeida
sequestrador tira colete de refém em hotel em
Brasília (Foto: Reprodução/GloboNews)
O homem pode responder por cárcere privado, cuja pena é de um a três
anos de reclusão. Dependendo do resultado da perícia, ele pode ser
indiciado por outros crimes.
Minutos antes de se entregar, o homem apareceu na sacada do prédio com
um dos punhos unido por algemas ao braço do refém. O funcionário já
aparecia sem o colete com a suposta carga de dinamite, que havia sido
amarrado ainda no início da manhã. A esposa do refém e uma madrinha do
sequestrador acompanhavam as negociações no espaço em frente à entrada
do hotel.
Atiradores de elite da Polícia Civil foram posicionados em áreas
estratégicas no início da tarde e aguardavam autorização para atirar. Na
ocasião, a polícia ainda não sabia se os explosivos eram verdadeiros. O
volume de dinamite teria capacidade para danificar a estrutura do
hotel, segundo a polícia.
O autor do sequestro tinha expressado exigências políticas – renúncia
de Dilma Rousseff, extradição de Cesare Battisti e o que chamou de
"aplicação efetiva da Lei da Ficha Limpa", sob ameaça de detonar os
explosivos. O delegado Almeida manteve sigilo sobre o prazo dado pelo
sequestrador, mas informou que seria inferior a seis horas.
Imagens mostram o sequestrador ameaçando
refém, a fachada do hotel e policiais no quarto a
rendição do homem (Fotos: Evaristo Sa/AFP, José
Cruz/Agência Brasil e Reprodução/Globo News)
'Do bem' e cartas
Amiga da família e chamada de tia pelo sequestrador, a dona de casa
Alaídes Alves Góis, de 50 anos, disse não ter entendido o que aconteceu.
Segundo ela, que soube do caso pela TV, a ação não combina com a
postura do sequestrador.
"Ele é como se fosse um filho para mim, foi criado junto com meu filho.
Ele me chama de tia", disse. "A atitude dele é muito desesperadora. Não
acredito que vá acontecer, que ele vá fazer nenhuma desgraça. Não acho
que ele faria isso a alguém. Falei com a mãe dele por telefone. Ela me
pediu, pelo amor de Deus, para interceder. Ele me escuta mais que à
mãe."
Alaídes conta que conheceu a família quando comprou uma fazenda no
interior de Tocantins e se tornou vizinha deles. O contato, iniciado em
1987, prossegue até hoje. A dona de casa disse que todos se consideram
como sendo "do mesmo sangue".
Na casa do suspeito, em Combinado, no Tocantins, a
polícia encontrou três cartas de despedida
escritas pelo sequestrador. De acordo com o delegado Paulo Henrique
Almeida, nos textos ele pedia desculpa à mãe e aos tios, se dizia
"desesperado" com o atual "cenário político" e falava que "essa
tempestade vai passar".
As cartas teriam sido escritas no dia 26. O homem foi para Brasília no
próprio carro, e o automóvel foi apreendido para perícia.
O lutador de MMA Minotauro, que estava hospedado
no hotel e teve de deixar o quarto às pressas
(Foto: Dayane Oliveira/G1)
Hóspedes desalojados
Por causa do sequestro e ameçada de explosão do hotel, os hópedes do Saint Peter tiveram de deixar o prédio logo cedo.
Entre os hóspédes etava o lutador de MMA Rodrigo Nogueira, o Minotauro. Ele e o irmão participaram neste final de semana de um evento esportivo em Brasília.
Minotauro disse ao
G1 que foi informado que teria de
deixar o hotel por causa de um vazamento de gás. "A gente desceu pelo
elevador. Lá dentro não ficamos sabendo de nada. A primeira informação
foi que estava tendo um vazamento de gás, que era para a gente sair o
mais rápido possível."
O lutador disse que ainda demorou a deixar o Saint Peter porque estava
tomando café na hora em que os funcionários estavam indo de quarto em
quarto avisar os hóspedes para deixar o hotel. "Quando chegaram ao meu
quarto eu tinha saído para tomar café, então quando voltei os quartos já
estavam todos abertos, ninguém tinha nenhuma informação."
A médica Larissa Dourado, que veio para Brasília para participar de um
congresso de cardiologia, disse que estava no quarto quando os bombeiros
bateram à porta, por volta de 9h30 da manhã, e disseram que era para
ela deixar o hotel.
"Começaram a bater nas portas dos quartos, chamando a gente, eles se
identificaram como bombeiros e disseram que era pra evacuar os quartos.
Foi supertranquilo, desci de elevador. Não trouxe nada além do meu
celular, até meus documentos estão lá dentro", disse.
Fonte: G1