O presidente de Burkina Fasso, Blaise Compaoré, decretou nesta
quinta-feira (30) o estado de sítio no país e dissolveu o governo, após
um grande e violento protesto dos cidadãos contra a reforma
constitucional impulsionada pelo chefe de estado para prolongar seu
mandato.
Compaoré, que tomou esta decisão depois de se reunir
com seu Conselho de Ministros, afirmou que está disposto a negociar com a
oposição e que o general do exército, Gilbert Diendere, será agora o
encarregado de restabelecer a ordem no país, informou a imprensa local.
Após o anúncio, Diendere afirmou que a Assembleia Nacional fica
dissolvida e informou da criação de um "órgão de transição" para
garantir um retorno à normalidade em um prazo de 12 meses.
Além disso, o general decretou o toque de recolher em todo o país entre as 19h e as 6h.
A Assembleia Nacional deveria ter votado nesta quinta-feira uma emenda
constitucional que permitiria ao chefe de Estado continuar no poder em
um quinto mandato, mas os protestos, que incluíram ataque e um incêndio
no parlamento, obrigaram o governo a paralisar e anular a negociação do
projeto.
Após um dia de distúrbios e confrontos, a única
notícia sobre o presidente do país tinha sido divulgada através uma
curta mensagem em seu perfil no Twitter. Pela rede social, Compaoré
pediu "calma e serenidade".
Na manhã desta quinta-feira,
milhares de manifestantes se reuniram em frente ao prédio do parlamento,
que estava cercado por tropas do exército e policiais como precaução
para possíveis manifestações.
O cordão de isolamento organizado
pelas forças de segurança não resistiu aos empurrões dos manifestantes,
que conseguiram entrar na Assembleia e incendiaram o prédio.
A
partir desse momento, o caos tomou conta da capital com intensos
confrontos entre os cidadãos e a polícia, nos quais, segundo a imprensa
local, pelo menos cinco pessoas morreram.
Os manifestantes
também atacaram as sedes da televisão e da rádio públicas, interrompendo
as transmissões, e várias lojas da cidade foram saqueadas.
Manifestantes protestam contra líder há 27 anos no poder em Burkina Faso
30.out.2014
- Manifestantes contra o governo fazem protesto ao redor de fumaça que
sai de carros incendiados nas proximidades da sede do Parlamento em
Uagadugu, capital de Burkina Faso, nesta quinta-feira (30), durante
manifestação para impedir a votação da emenda constitucional que
permitiria o presidente Blaise Compaoré, há 27 anos no poder, continuar
no cargo. O governo decidiu anular a votação após o protesto. "O governo
informa a toda a população da anulação da análise do projeto de lei
para a Constituição. É pedido calma e contenção à população", diz um
comunicado emitido pelo Serviço de Informação
Leia mais Issouf Sanogo/ AFP
Depois, incendiaram as residências de diferentes ministros e finalmente
seguiram em direção ao palácio presidencial, onde foram dispersados a
tiros.
Por outra parte, o irmão do presidente, François
Compaoré, pode ter sido preso pela polícia no aeroporto, onde a
companhia aérea nacional, Air Burkina, anunciou o cancelamento de todos
os voos de saída e chegada à capital.
Os protestos se
espalharam por outras cidades como Bobo Dioulasso, onde foi incendiada a
sede do partido de Compaoré, o Congresso para a Democracia e o
Progresso (CDP), informaram fontes do partido à Agência Efe.
Cerca de três horas depois do ataque ao parlamento, uma parte do
exército começou a se unir aos manifestantes na Praça da Nação, com o
general Kouamé Lougué à frente.
Aclamado por milhares de
cidadãos, rebatizou o lugar como "Praça da Revolução" e se autoproclamou
chefe do Estado, enquanto alguns jornalistas da imprensa local
informavam uma possível fuga do presidente ao Senegal.
Para o líder da oposição, Zéphirin Diabré, o presidente "perdeu toda a legitimidade e deve arcar com as consequências".
Compaoré, que está no poder desde 1987 após protagonizar um golpe de
Estado, poderia se candidatar de novo às eleições de 2015 caso a emenda
fosse aprovada.
Os protestos tiveram início há dois dias,
quando milhares de cidadãos se manifestaram na capital aos gritos de "27
anos é suficiente", em alusão o tempo que Compaoré está no poder.
Desde a independência do país da França, em 1960, até a chegada de
Compaoré à presidência em 1987, a história de Burkina Fasso se
caracterizou por uma sequência de golpes de Estado.
Em maio de
1983, o golpe foi liderado pelo capitão Thomas Sankara, que estabeleceu
um Conselho Nacional Revolucionário e nomeou Blaise Compaoré ministro de
Estado da presidência.
Em agosto de 1984, o país foi renomeado
como Burkina Fasso (terra dos homens incorruptíveis) e se introduziram
medidas de austeridade econômica que provocaram tensões entre alguns
setores da população.
Em outubro de 1987, um novo golpe destituiu Sankara, que foi executado, e Blaise Compaoré chegou ao poder.
Fonte: Uol Notícias