As mulheres muçulmanas são um poço de surpresas. No Ocidente,
ficamos muito confusos com seus véus e sua vestimenta, que percebemos
como extremamente conservadora. Debaixo dessas capas de tecido há,
muitas vezes, mulheres de fibra.
Em meu trabalho, coube-me
entrevistar ativistas, advogadas, mães corajosas e um monte de valentes
que não fariam feio em nenhum lugar do mundo. Mas eu não estava
preparada para isto.
De acordo com uma informação publicada no
jornal "Gulf News", dos Emirados Árabes Unidos, uma mulher foi aos
tribunais para pedir divórcio porque seu marido não a satisfaz
sexualmente. Embora o jornal não informe a nacionalidade da demandante,
pode-se deduzir que se trata de uma muçulmana, porque ela apresentou sua
demanda no Tribunal da Sharia de Dubai.
A esposa insatisfeita
afirma que seu marido só consegue manter relações sexuais com ela "três
ou quatro vezes por semana", o que lhe parece "insatisfatório". Mas,
segundo um recente artigo publicado neste jornal, deveria dar-se por
muito feliz, já que, "em média, os homens casados de menos de 65 anos
respondem nas pesquisas que mantêm relações sexuais uma vez por semana".
E isso se houver sorte, porque o autor afirma que a realidade pode ser
muito menos animada. Claro que os estudos em questão se referem aos
Estados Unidos, e aqui estamos na península arábica.
Interrogada
pelo juiz, a boa senhora respondeu que desejava seu marido "duas ou
três vezes por dia", algo que, ao que parece, para ele é muito difícil.
Assim, como não conseguiu um acordo satisfatório com ele (o jornal não
revela em que sentido), optou por levá-lo aos tribunais e solicitar um
divórcio por danos.
Realmente, é preciso ser muito ousada ou
estar muito cansada para pedir o divórcio em terras islâmicas. Enquanto
para os homens trata-se de um procedimento direto e sem complicações, as
mulheres têm de demonstrar que houve maus-tratos físicos e emocionais,
fracasso em cumprir o propósito do casamento, infidelidade ou
incapacidade do marido para manter sua família.
É possível que a
queixosa tenha tentado agarrar-se à segunda causa, mas, mesmo assim,
isso a obriga a expor sua vida sexual diante de um tribunal no qual
previsivelmente os homens são maioria, uma situação bastante embaraçosa
em um entorno em que esses assuntos raramente saem do âmbito privado.
Por enquanto, o juiz lhe disse que manter relações sexuais (só) três ou
quatro vezes por semana não lhe parece prejudicial e que esse é um
motivo insuficiente para obter o divórcio; além disso, o juiz sugeriu
que ela se submeta a um tratamento médico. A mulher se negou e pediu que
seu marido se submeta a um exame. Assim, o tribunal enviou o demandado a
um centro médico para que seja confirmado que ele está em perfeito
estado e é capaz de satisfazer sua mulher.
O julgamento continuará depois.
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
Fonte: Uol Notícias