A Polícia Civil de São Paulo
vai abrir inquérito e fará investigações online de grupos de
homossexuais que transmitem o vírus da aids para parceiros sexuais
propositalmente. A prática foi revelada pelo jornal "O Estado de S.
Paulo" no domingo (22).
O secretário da Segurança Pública,
Alexandre de Moraes, mobilizou a área de inteligência em internet da
polícia para tentar identificar donos dos blogs que compartilham dicas
de como contaminar outras pessoas sem serem percebidos.
O pedido
foi feito pelo secretário da Justiça e da Defesa e Cidadania, Aloísio
de Toledo César. Em conversa com Moraes, ele pediu rigor nas
investigações do que classifica como um "ato horrorizante".
"Entendo que a homossexualidade é uma opção pessoal que deve ser
respeitada, mas não se pode admitir, em hipótese nenhuma, que pessoas de
baixo nível moral se esforcem para transmitir o HIV a outras", afirmou.
Disfarce
Segundo Toledo, Alexandre de Moraes orientou as equipes do Departamento
de Inteligência da Polícia Civil (Dipol) para agirem disfarçadamente na
identificação dos grupos. Serão analisados salas de bate-papo, páginas
na internet, blogs e até clubes e saunas de sexo.
"Combinamos de
estimular todas as ações que possam evitar que essas pessoas continuem a
retransmitir o vírus de forma criminal", disse Toledo.
"Quando a
transmissão se aperfeiçoa dessa forma dolosa, o entendimento da Justiça
é de que a figura jurídica configura como uma tentativa de homicídio,
com pena mais grave", complementou.
Segundo o artigo 130 do
Código Penal, a pena para quem transmite o vírus sem o consentimento do
parceiro é de até 4 anos de prisão.
Dicas
A
investigação da polícia começa depois que o jornal "O Estado de S.
Paulo" divulgou que adeptos da modalidade bareback, na qual homens gays
transam com parceiros sem camisinha, têm compartilhado técnicas para
fazer sexo sem proteção ou furar o preservativo. Conhecidos como o
"clube do carimbo", divulgam fotos, vídeos e dicas com o "passo a passo"
da contaminação.
Em uma das páginas, as frequentes postagens
alertavam que o carnaval e as férias escolares são momentos propícios
para "carimbar" (quando o soropositivo retransmite o vírus),
principalmente os jovens.
Para os secretários, os criminosos só
serão identificados se as vítimas denunciarem. "São casos complicados e
muitas vezes são escondidos pelas próprias famílias. Para facilitar o
processo de investigação, é necessária a denúncia dos casos à Polícia
Civil", avaliou Toledo.
J.S., 67, é moradora de São José dos
Campos. O sobrinho, 46, é soropositivo há mais de duas décadas. Segundo
ela, a família inteira sabe que ele retransmite o vírus aos parceiros
sexuais sem consentimento.
"Ele falsifica todos os exames e
mantém sites de encontro na internet. A nossa família sabe, e é
totalmente negligente nesse assunto", afirma. "Meu desejo é denunciá-lo,
porque não queria que um filho meu fosse infectado desse jeito."
Criminalização
Para as entidades que trabalham na prevenção da aids, a criminalização não é a melhor solução.
Para Salvador Pereira Correa Junior, coordenador executivo da
Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids (Abia), criminalizar o
ato da transmissão pode afastar as pessoas do teste e prejudicar a
prevenção da doença.
"Seria quase impossível você conseguir
provar que a pessoa transmitiu o HIV intencionalmente. Poderia, por
exemplo, um ex-companheiro se vingar e dizer que foi intencional",
explicou.
"Prender esse grupo causa muito mais pânico moral do
que medida efetiva. O que não significa que nós somos a favor de
qualquer tipo de transmissão intencional. Mas essa não é a saída",
afirmou Correa. As informações são do jornal "O Estado de S. Paulo".
Fonte: Uol Notícias