A Igreja Batista da Lagoinha, com 63 templos em Belo Horizonte (67 mil
membros) e um em Niterói (no Rio, com 5.000 membros), criou uma
boate-templo na Savassi, área nobre da capital mineira e local da maior
concentração de boates, bares, restaurantes e hotéis da cidade.
O Savassi Club ou Igreja Batista Lagoinha Savassi, inaugurado no início
deste ano, tem todas as características de uma boate. Música alta ao
vivo tocada por bandas de diferentes "tribos", intenso jogo de luzes
coloridas, iluminação neon, paredes pretas, camarote e salas de estar.
Somente dois aspectos diferenciam o local de outras casas noturnas: não
há "pegação", ela é substituída pela pregação, e os drinques não têm
álcool, explica o pastor Victor Câmpara, 27.
"Estamos fazendo um trabalho específico de evangelização desses jovens.
Aceitamos todas as 'tribos'. Roqueiro, playboy, metaleiro, hipster,
skatista, gay. Sem preconceitos, queremos receber todos os jovens", diz
Câmpara.
Flaviano Marques da Costa, 29, o pastor Flavinho, explica que a
implantação da boate-templo na Savassi tem o objetivo atrair para a
Igreja Batista os jovens que frequentam as baladas nas casas noturnas da
Savassi.
"A ideia é que a evangelização possa alcançar todas essas 'tribos'. Por
ser um bairro boêmio, que atrai muitos jovens, investimos na Savassi
para deixar o lugar com cara de boate. É atraente para os jovens. O
louvor tem cara de boate mesmo", afirma.
Segundo o pastor Flavinho, a boate-templo já tem cerca de mil frequentadores.
"Se uma pessoa chegar aqui, drogada ou bêbada, vai ser recebida da
mesma forma. É claro que não vai utilizar nada aqui dentro, mas vamos
conversar com esses jovens", diz Câmpara.
"Um casal de namorados pode vir, claro. Mas não vai haver 'pegação' aqui. Só pregação."
Cura gay?
Priscila Coelho, 31, apresentadora de uma TV evangélica em Belo
Horizonte, é responsável pelo acolhimento de lésbicas, gays, bissexuais,
travestis, transexuais e transgêneros na boate-templo. Segundo ela,
participam do grupo cerca de cem jovens, que descobriram o evangelho
desde a implantação do templo.
"Primeiro falamos de Deus para essas pessoas. Depois vem a
evangelização. Deixar de ser gay é consequência. Se a pessoa tem fé no
Evangelho, ela deixa de ser gay", afirma Coelho, que diz que já se
relacionou com "várias garotas".
Ela solta uma gargalhada quando o repórter lhe pergunta sobre a cura
gay e explica o conceito. "Cura gay não existe. Não existe ex-gay. A
pessoa crê no Evangelho, acredita em Jesus e não pratica. É isso", diz.
"Com 24 anos descobri Jesus e deixei de ter relações sexuais com outras
mulheres. Eu era infeliz. Mas não sei se vou namorar ou ter
relacionamentos com homens. Ainda não", afirma.
Um templo em construção
Na avenida do Contorno, quase na esquina com a avenida Getúlio Vargas, o
Savassi Club está cercado de bares, sorveterias e hotéis. No imóvel, já
funcionaram sete boates nas últimas duas décadas.
A boate-templo está instalada em um prédio de três andares. Pintada de
preto, um portão de entrada iluminado com neon e sem placas de
identificação, os pastores e membros da igreja ficam dispostos na
calçada recebendo os frequentadores dos cultos, pessoas que os pastores
conhecem pelo nome.
Os cultos, sempre às 20h, acontecem às quartas-feiras, sábados e
domingos. Durante os intervalos, são distribuídos drinques feitos a
partir de frutas e polpas de frutas, água, churros, cookies e batatas
chips.
Segundo o pastor Flavinho, nas próximas semanas, o local vai abrir
também às sextas-feiras para uma "happy hour". Deve começar por volta
das 17h, diz o religioso.
Fonte: Uol Notícias