Ranniery Melo - Repórter
Das muitas possibilidades que o acesso à internet proporcionou aos
usuários, a compra e venda de produtos e serviços é uma das funções mais
populares, com diversos sites direcionados para este fim. Contudo,
eventualmente, é possível encontrar anúncios excêntricos, ou proibidos,
como o publicado na madrugada do último sábado, em um conhecido site,
por meio do qual uma pessoa oferecia o próprio rim.
Sob o título "Rim perfeito", a oferta do órgão era feita por um suposto
morador do bairro Vila Peri, em Fortaleza. Na descrição do produto, ele
afirma ter 35 anos, tipo sanguíneo O negativo e garante que o rim
estaria "em perfeito estado de funcionamento". O preço proposto pelo
órgão anunciado era de R$40 mil.
O Diário do Nordeste entrou em contato por telefone com o anunciante,
por volta das 10h de ontem (21), sem se identificar e simulando
interesse pelo rim. Apresentando-se como Jair (nome fictício), o dono do
órgão confirmou ser dele o rim a ser vendido e afirmou que, até aquele
momento, outras duas pessoas já teriam entrado em contato para saber
mais informações.
Ele informou nunca ter tido problemas sérios de saúde e que, durante
esta semana, realizaria uma bateria de exames para comprovar seu bom
estado e apresentar os resultados às famílias interessadas.
Quanto ao
valor cobrado, o anunciante mostrou-se disposto a negociar, baixando o
preço até R$32 mil.
Questionado por quê estaria vendendo seu próprio
rim, o anunciante afirmou estar precisando do dinheiro, mas que preferia
expor as razões somente quando entrasse novamente em contato para
mostrar os resultados.
A reportagem tentou entrar em contato novamente em outro momento para
identificar-se como imprensa, mas as ligações não foram mais atendidas.
A situação exposta é considerada ilegal. A lei 9.434, de fevereiro de
1997, esclarece que é crime vender ou comprar órgãos ou partes do corpo
humano, com pena de reclusão entre três e oito anos, permitindo apenas a
doação gratuita desse tipo de material, à exceção do sangue, do esperma
e do óvulo.
No caso de um rim, a retirada não pode causar no doador
impedimentos no funcionamento do organismo, ou representar um risco às
aptidões vitais e à saúde mental ou causar deformação inaceitável.
A Secretaria Estadual da Saúde (Sesa) foi procurada para esclarecer
como se dá o processo de doação de órgãos. Segundo a pasta, todos os que
estão disponíveis para transplante são listados conforme um sistema
nacional, que organiza e distribui os recursos de acordo com a fila de
espera e com a compatibilidade dos pacientes.
Além disso, os serviços
relacionados a esse processo são gratuitos, as doações são voluntárias e
doadores e transplantados não se conhecem, caso não sejam da mesma
família, para evitar influência ou transação comercial na doação. O
Hospital Walter Cantídio, em Fortaleza, é um dos que é credenciado como
centro transplantador de rim no Estado.
Maior índice
Em reportagem do Diário do Nordeste publicada em 24 de janeiro, a
Central de Transplantes do Estado expôs que 1.158 pessoas estavam na
fila de espera por um transplante. Destes, 541 precisavam de córneas,
456 aguardavam um rim, 139 necessitavam de um fígado e 12 esperavam por
um coração.
No ano passado, contudo, o Ceará conseguiu realizar 1.433
transplantes, alcançando o maior índice registrado em 18 anos. No
primeiro mês de 2016, pelo menos 17 procedimentos já haviam sido
realizados, sendo 13 referentes a órgãos sólidos, e quatro de células.
Doações
Controle é realizado pelo sistema nacional
1. O programa nacional de transplantes tem organização exemplar. Cada
estado tem uma central de notificação, captação e distribuição de órgãos
que coordena a captação e a alocação dos órgãos, baseada na fila única,
estadual ou regional
2. Para realizar transplante é necessário credenciamento de equipe no Ministério da Saúde. A
Maioria destas equipes é liderada por médico com especialização no
exterior, obtido graças ao investimento público na formação de
profissionais em terapia de alta complexidade.
3. Hoje mais de 80% dos transplantes são realizados com sucesso, reintegrando o paciente à sociedade produtiva
Fonte: MINISTÉRIO DA SAÚDE
Via Diário do Nordeste