Jornalistas iam fazer uma reportagem sobre o alargamento de vias na comunidade
RIO - Uma equipe de reportagem do GLOBO foi recebida a tiros, por
volta das 9h desta sexta-feira, quando chegava à comunidade da Rocinha,
na região da Via Ápia, na Zona Sul do Rio. Os jornalistas iam fazer uma
reportagem sobre o alargamento da Rua 2 e as consequentes
desapropriações previstas nas obras do Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC-2).
Durante os disparos, a Associação de Moradores da
Rocinha fechou as portas, forçando a equipe a buscar abrigo em uma loja.
Após cinco minutos de tiros, um homem bateu na porta do estabelecimento
ordenando a saída dos repórteres da comunidade.
— Vocês vão aguardar cinco minutos. A ordem é para descerem assim que
abrirmos a porta — disse a comerciante, assustada, após receber um
recado dado por um jovem.
A Associação de Moradores da Rocinha informou que fechou por questão
de segurança. Segundo a entidade, o clima está tenso na comunidade, onde
estão acontecendo tiroteios regularmente.
Segundo a Coordenadoria de Polícia Pacificadora, após a saída dos
jornalistas, houve um confronto entre policiais e criminosos, e uma
granada foi apreendida.
Na avaliação do fundador do Batalhão de Operações Especiais (Bope),
Paulo Amendola, a alta concentração de usuários de drogas na Zona Sul
prejudica o combate ao tráfico na Rocinha.
— A Rocinha fica num ponto muito estratégico para o tráfico na
cidade. É um ponto altamente privilegiado para a venda de drogas. Fica
exatamente entre a Zona Oeste e Sul do Rio, fazendo com que os marginais
resistam. A vontade do tráfico de permanecer na Rocinha é maior do que
em qualquer outra comunidade do Rio de Janeiro — disse.
Ao se aproximar da Rua 2, principal ponto de resistência, é possível
notar um emaranhado de vielas e becos estreitos. Segundo especialistas,
além de ajudar a combater a ação de traficantes, o alargamento das ruas
possibilitará a redução dos índices de doenças. A tuberculose, por
exemplo, atinge 300 pessoas da comunidade em cada grupo de 100 mil
moradores. Segundo a Secretaria municipal de Saúde, é o quadro de
contaminação mais grave do estado.
De acordo com Alberto Chebabo, infectologista do Hospital
Universitário do Fundão, o alargamento de vias na Rocinha vai melhorar a
entrada de luz solar e a ventilação, evitando uma série de doenças:
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- Vai, sem dúvida, diminuir os casos de tuberculose e o risco do
contágio de outras doenças, como a catapora e a leptospirose. O número
de casos de doenças transmitidas por via aérea aumenta em locais de
grande aglomeração, com falta de luz e de ventilação. Abrindo a via,
tem-se coleta de lixo adequada, melhorando o saneamento da região
prevenindo outras doenças.
Para o presidente do Instituto de Arquitetos do Rio de Janeiro
(IAB-RJ), Pedro Luz Moreira, a abertura de vias nas comunidades,
prevista no PAC-2, é muito importante por integrarem as favelas aos
bairros.
O que se oferece nos bairros precisa ser oferecido nas favelas
também. As vias vão permitir coleta de lixo e acesso das ambulâncias,
por exemplo. O que se debate não é uma abertura indiscriminada de vias,
mas ampliar corredores que possam garantir a chegada desses serviços -
disse ele, reforçando que no projeto original do Favela-Bairro, na
década de 1990, o tema foi intensamente debatido com as comunidades.
Fonte: Jornal O Globo