Mães foram à polícia após filhos de 3 e 4 anos relatarem castigos por mau comportamento em sala de aula. Prefeitura afastou a docente e diz que estagiária foi desligada.
Imagens feitas pela câmera de segurança da sala de aula de uma creche
municipal em Restinga (SP) mostram alunos de 3 e 4 anos sendo colocados
dentro de um saco de lixo pela professora e pela estagiária. Os vídeos
foram anexados ao inquérito da Polícia Civil, instaurado em outubro,
para apurar as denúncias de maus-tratos feitas pelas mães das crianças.
Segundo o delegado Eduardo Bonfim, as imagens não deixam dúvida a
respeito da má conduta das suspeitas, que agiriam desta forma para
castigar alunos indisciplinados. A professora Silma Lopes e a
estagiária, que é menor de idade, deverão prestar depoimento nos
próximos dias.
De acordo com a Prefeitura de Restinga, a docente foi afastada das
funções e um processo administrativo foi aberto para apurar o caso. Já a
adolescente foi desligada do quadro da prefeitura após abandonar o
posto de trabalho.
Procurado, o advogado da professora, Rui Engracia Garcia, negou as
acusações e disse que só vai comentar as imagens após verificá-las.
Maus-tratos
O caso foi levado ao Conselho Tutelar pela mãe de um menino de 4 anos,
em setembro deste ano. Ela relatou que o filho não queria mais
frequentar a Escola Municipal de Ensino Básico (Emeb) Célia Teixeira
Ferracioli, por medo da professora.
Outras duas mães relataram queixas contra a docente ao Conselho e todas
foram orientadas a procurar a direção da creche e a fazer um boletim de
ocorrência.
“Pela forma que chegou a nós, quando a criança tinha alguma atitude de
indisciplina, ela pegava e colocava dentro do cesto de lixo, tampava e
fazia os alunos contarem até 10, levando de uma forma que eles pensassem
que se tratava de uma brincadeira”, afirmou o presidente do Conselho,
Adilson Paulino Rosa.
Após a instauração do inquérito, o delegado colheu os depoimentos das
mães, que relataram que a professora usava o saco como forma de punir as
crianças pelo mau comportamento. Bonfim diz que examinou as imagens da
câmera de segurança da sala, mas não encontrou nenhuma cena suspeita,
porque a data das supostas agressões não foi precisa.
“Não ocorreu no dia em que consta a denúncia, mas antes disso. A
primeira mãe que denunciou, no dia em que encontramos as imagens, o
filho dela já não estava mais frequentando a escola.”
Crianças colocadas em saco
De acordo com Bonfim, foi feita uma nova varredura, desta vez em datas
anteriores, e a polícia localizou os vídeos em que as responsáveis pela
turma aparecem maltratando as crianças, dando novo rumo à investigação.
Em um vídeo gravado no dia 14 de setembro, a estagiária e a professora
aparecem colocando um menino dentro de um saco de lixo preto. Uma coloca
o garoto em pé, em cima do saco, e o segura pelos braços, enquanto a
outra tenta puxar e fechá-lo.
Num outro momento, uma criança deitada em um colchão parece se debater
no interior do saco. Em uma das cenas, é possível ver a estagiária com a
raquete e o saco nas mãos, numa forma de tentar intimidar os alunos.
Segundo o delegado, o comportamento natural das outras crianças, que
observam tudo de perto ou que brincam pela sala, indica que o suposto
castigo ocorria com frequência.
“A gente vê que isso era meio comum, porque as outras crianças tentam
ajudar a estagiária a colocar o saco na cabeça da outra criança, o que
demonstra, pelo menos pra mim, que isso era uma coisa usual dentro da
sala de aula”, diz Bonfim.
O delegado investiga ainda a conduta de uma professora substituta, que
testemunha o comportamento das colegas, mas não toma nenhuma atitude no
intuito de proteger os alunos.
Investigação da Prefeitura de Restinga
Segundo o procurador da Prefeitura de Restinga Alex Gomes Balduíno, a
professora titular foi afastada das funções e um processo administrativo
para averiguar o caso está em fase de conclusão.
Balduino afirma que as suspeitas contra a professora substituta, que
foram levantadas agora pela polícia, também serão investigadas pela
Secretaria de Educação, mas ela só deverá ser afastada na quinta-feira
(16), após publicação no Diário Oficial do município.
Fonte: G1