Cientista chinês He Jiankui afirmou ter criado os primeiros bebês geneticamente modificados da históri. |
Apelidado na imprensa mundial de "Frankenstein
chinês", o pesquisador He Jiankui sumiu, informou o jornal "South China
Morning Post", sediado em Hong Kong. No entanto, a universidade onde o
cientista trabalhou negou que
Jiankui tenha sido detido. Ele desapareceu após ter declarado ter
editado genes de bebês. A última vez que foi visto foi no último dia 28
de novembro, em um evento científico em Hong Kong. O governo chinês já
prometeu punir os envolvimentos no polêmico projeto dos bebês
geneticamente modificados.
O pesquisador chinês anunciou, no dia 25 de novembro, em um vídeo
difundido no YouTube, o nascimento, "algumas semanas atrás", de duas
meninas gêmeas cujo DNA foi editado para torná-las resistentes ao vírus
da Aids, com o qual seu pai está infectado.
A China exigiu a suspensão das atividades científicas dos
pesquisadores envolvidos no suposto nascimento dos primeiros bebês
editados geneticamente.
"Instamos ao organismo que suspenda as atividades científicas das
pessoas envolvidas", indicou o vice-ministro da Ciência e Tecnologia, Xu
Nanping, em uma entrevista à rede CCTV. O ministério "se opõe
firmemente" a estes experimentos, explicou.
"Este incidente viola de forma flagrante as leis e normas chinesas, e
traspassa abertamente os limites da moral e da ética da comunidade
universitária", acrescentou.
Seria um fato mundialmente inédito. No entanto, o anúncio causou
agitação na comunidade internacional, tanto por razões científicas como
éticas. A Comissão Nacional da Saúde, que tem status de ministério,
investiga atualmente as afirmações do pesquisador.
Em um comunicado, um grupo de 122 cientistas chineses lamentou nestes
últimos dias a "loucura" do cientista. Especialistas do genoma,
reunidos em um colóquio em Hong Kong, condenaram também, nesta
quinta-feira, o ato "irresponsável" de He Jiankui.
Ante a polêmica gerada pelas pesquisas, que não foram contrastadas de
forma independente, o autor dos trabalhos declarou, nesta quarta-feira,
que estava fazendo uma "pausa" em seus ensaios clínicos.
No entanto, He Jiankui se declarou ao mesmo tempo "orgulhoso" de ter permitido o nascimento dos dois bebês.
O cientista ia participar de novo no dia 29 de novembro na segunda
cúpula sobre a edição de genoma em Hong Kong, uma reunião geralmente
confidencial mas que obteve publicidade mundial devido a seu anúncio.
No entanto, He não estava no programa oficial, e o presidente do
comitê de organização, o prêmio Nobel David Baltimore, afirmou aos
jornalistas que foi o próprio cientista que cancelou sua presença, e não
os organizadores.
Oito casais
He afirmou que oito casais - formados por um pai soropositivo e uma
mãe soronegativa — se apresentaram voluntariamente para participar do
experimento, mas um deles desistiu. Também falou de "outra gravidez
potencial", que implicaria outro casal, mas não detalhou se esta
gravidez estava em andamento ou terminou em aborto espontâneo.
He Jiankui, formado na universidade americana de Stanford, diz ter
utilizado a técnica CRISPR/Cas9, que permite aos cientistas remover e
substituir uma fita de DNA com precisão. As gêmeas nasceram, segundo
ele, após uma fecundação in vitro a partir de embriões que foram
editados antes de ser implantados no útero da mãe.
Esta técnica abre perspectivas no âmbito das doenças hereditárias.
Mas é polêmica, visto que as modificações realizadas seriam transmitidas
às gerações futuras e poderiam afetar o conjunto do patrimônio
genético.
Em seu comunicado, os organizadores da cúpula consideram que as
modificações do genoma de células germinativas poderiam ser "aceitáveis"
no futuro se forem respeitados critérios rigorosos, em particular "uma
supervisão independente e estrita". Explicam, no entanto, que as
incertezas científicas e técnicas são muitas "e os riscos, altos demais"
para contemplar "por enquanto" ensaios clínicos.
A imprensa de Hong Kong informou que o fundador de uma associação
baseada em Pequim que ajuda soropositivos lamentava ter apresentado
famílias aos pesquisadores do laboratório de He. "No início não sabíamos
o que realmente estavam fazendo", declarou este fundador, Bai Hua, que
afirma ter apresentado cerca de 50 famílias ao pesquisador chinês.
"Agora, meu sentimento pessoal é que são um pouco loucos", afirma.
Fonte: Diário do Nordeste