Um
caso de violência doméstica resultou em uma tentativa de prisão contra a
delegada responsável por registrar o Boletim de Ocorrência da vítima,
em uma delegacia de Fortaleza. Sob suspeita das agressões e de dar voz
de prisão contra a delegada está um juiz estadual.
A
reportagem do Diário do Nordeste apurou que o caso aconteceu na
madrugada deste sábado (6), durante plantão na Delegacia de Defesa da
Mulher (DDM), em Fortaleza. A vítima de violência doméstica é uma
médica, namorada do magistrado e teria sofrido agressões físicas.
O
relacionamento entre o casal começou há poucos meses. A mulher resolveu
denunciar as agressões e buscou a Polícia Civil. No momento em que o
juiz soube da denúncia, se revoltou e foi até a delegacia exigir ter
acesso ao Boletim de Ocorrência prestado pela namorada.
A
delegada plantonista teria impedido acesso do magistrado ao documento,
já que ele era o suspeito das agressões contra a mulher.
Foi
quando, conforme testemunhas, o juiz tentou se valer da função pública e
deu ordem de prisão contra a policial civil. O caso tomou repercussão e
os envolvidos discutiram dentro da delegacia.
A
informação é que outros policiais civis se colocaram a favor da
delegada e exigiram que o juiz se retirasse do estabelecimento. Não
houve prisão e o caso de violência doméstica segue sob investigação. A
reportagem não localizou a defesa do juiz.
Em
nota, o Tribunal de Justiça do Estado do Ceará (TJCE) informou que
"aguarda a devida apuração dos fatos". O TJCE disse ainda que " a
instituição repudia todo e qualquer tipo de violência e adotará as
medidas cabíveis, caso seja constatado algum ato em desacordo com os
princípios éticos e legais".
A
Polícia Civil confirmou investigar uma "ocorrência de violência
doméstica" de um "suspeito" que "desacatou a delegada plantonista" da
DDM. Outros detalhes serão repassados "em momento oportuno para não
comprometer as investigações".
"Cabe
destacar, que a PC-CE presta todo apoio a delegada que foi ofendida
enquanto realizava o seu mister constitucional", completou nota da
corporação.
Representantes
da Associação dos Delegados de Polícia do Ceará (Adepol) também
estiveram presentes na DDM. O presidente da Adepol, delegado Jaime Paula
Pessoa Linhares, repudiou a atitude do magistrado e afirmou que a
Adepol está prestando solidariedade incondicional à delegada e salientou
que a entidade vai tomar as "medidas cabíveis".
"Reconhecermos
no Judiciário um grande parceiro da Polícia Civil, seja na Delegacia da
Mulher ou outras situações, mas esse caso acontece na Semana do
Aniversário de 16 anos da Lei Maria da Penha. Lamentamos profundamente a
atitude do magistrado com relação não só a companheira dele, mas a
delegada que estava no exercício da atividade dela".
JAIME PAULA PESSOA LINHARES
Delegado e presidente da Associação dos Delegados de Polícia do Ceará (Adepol-CE)
Fonte: Diário do Nordeste