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Foto: Reprodução/Redes Sociais. |
O empresário do setor do agronegócio Adelar Eloi Lutz, que mandou
funcionárias colocarem “o celular no sutiã” para filmarem o voto na urna
eletrônica durante as eleições, assinou um Termo de Ajuste de Conduta
(TAC) com o Ministério Público do Trabalho (MPT-BA), que apura o caso. O
objetivo do ruralista, que atua no oeste da Bahia, era que elas
comprovassem que votaram conforme imposição dele.
O acordo, assinado na terça-feira
(25), prevê que o homem faça uma retratação pública, reforçando o
direito de liberdade de voto, além do pagamento de indenização por danos
morais coletivos no valor de R$ 150 mil. O dinheiro deverá ser
depositado em até 30 dias na conta do Fundo de Promoção do Trabalho
Decente (Funtrad).
Conforme
o órgão, os recursos serão destinados para projetos que fortalecem o
trabalho digno na própria região onde Adelar Eloi tem diversas
propriedades de grande porte. Ele é do município de Formosa do Rio
Preto.
O empresário recebeu prazo de 48
horas, a contar da assinatura do termo, para publicar nas redes sociais
um vídeo em que esclarece que assediar trabalhadores é uma prática
ilegal. Além disso, ele deverá orientar todo trabalhador que se sentir
constrangido pelo patrão a denunciar o caso ao MPT.
No
TAC, o ruralista se compromete a atender dez obrigações, entre as quais
a de não incitar o assédio eleitoral, não ameaçar empregados que não
votem em determinado candidato e não orientar o voto deles. Em caso de
descumprimento, ficou estabelecida multa de R$ 50 mil por cada item
descumprido.
O g1 entrou em contato com o ruralista para pedir um posicionamento, mas ele não quis se manifestar sobre o caso.
Relembre o caso
Na
última quarta-feira (19), o g1 teve acesso ao áudio do ruralista em que
ele diz ter orientado funcionárias a colocarem “o celular no sutiã”
para filmar o voto na urna eletrônica e comprovar, posteriormente, que
votaram conforme imposição dele.
Em
um trecho, ele afirmou: "Tinham cinco [funcionários que não
concordavam], dois voltaram atrás. Das outras 10 que estavam ajudando na
rua, todos tiveram que provar, filmaram nas eleições. Se vira, entrem
com o celular no sutiã, que seja. Vai filmar, senão, rua".
Adelar Eloi ainda revelou que duas
mulheres, que não aceitaram a ordem, o procuraram para dizer que vão
filmar os votos no segundo turno. "Duas não queriam e estão para fora,
hoje já estão falando ‘eu vou votar no Bolsonaro agora’. Então vota,
primeiro prova, que nós contratamos de novo”, afirmou.
Ainda
na quarta-feira, o empresário disse que o áudio se tratava de uma
"brincadeira". Por telefone, ele afirmou à reportagem que não iria se
posicionar sobre o caso. No entanto, publicou um vídeo em uma rede
social onde falava sobre o ocorrido. Veja mais abaixo.
"Mandei para várias pessoas, mas não sei como foi parar em outros lugares. Jamais ia fazer isso [demitir alguém]", garantiu.
Ainda
no vídeo, o empresário disse que alguns de seus funcionários têm
familiares que apoiam o candidato à presidência do partido oposto ao que
ele vota.
"Eu
tenho gente que está trabalhando aqui que a família toda é PT, eu botei
para fora? Eu não, só disse que tem que analisar e tal, mas não tem
pressão nenhuma", afirmou.
Primeiro caso no oeste da Bahia
Em
setembro deste ano, a empresária ruralista Roseli Vitória Martelli
D'Agostini Lins assinou acordo com o Ministério Público do Trabalho,
onde se comprometeu a não praticar atos de incitação ao assédio
eleitoral.
Um
inquérito foi aberto depois que ela postou um vídeo orientando que
agricultores “demitam sem dó” os funcionários que votarem em Lula,
candidato à presidência pelo Partido dos Trabalhadores (PT).
Roseli Vitória é de Luís Eduardo
Magalhães, no oeste da Bahia. Ela também teve que fazer uma retratação
pública, nas redes sociais, e custear uma campanha de esclarecimento,
que será veiculada em emissoras de rádio da região onde ela mora e,
também, na capital baiana.
Na
rede social, Roseli Vitória se apresenta como "aposentada,
conservadora, avó de dois meninos maravilhosos, entusiasta pelos rumos
que o Brasil está trilhando". Em uma das postagens, feita no dia 26 de
agosto, Roseli orienta os colegas ruralistas:
“Façam
um levantamento. Quem for votar no Lula, demitam, e demitam sem dó,
porque não é uma questão de política, é uma questão de sobrevivência. E
você que trabalha com o agro e que defende o Lula, faça o favor, saia
também.”
Na época da publicação, o g1 procurou a empresária, mas não obteve retorno.
Fonte: G1