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Uma empresária de Londrina, no Norte do Paraná, surpreendeu familiares e
amigos no próprio velório, ao deixar uma carta de despedida para ser
lida na cerimônia. O texto foi enviado por e-mail a uma das irmãs dela,
com o pedido que fosse compartilhado com as pessoas presentes no dia de
seu velório.
Juliana Carvalho Lopes, de 45 anos, morreu de câncer no dia 4 de março.
No
conteúdo da carta de despedida, Juliana afirma que sua “hora chegou” e
que “tá tudo bem”. Ela conta como passou a enxergar a vida após a
descoberta da doença e como encarou o diagnóstico.
“Durante o tratamento, passei por
muitas fases aqui dentro de mim. E, felizmente, encontrei as minhas
próprias ferramentas psíquicas para lidar com o câncer e com as pessoas
da minha vida. E fui sustentada pela força, o afeto, a parceria e o amor
de vocês, cada um à sua maneira”, descreve.
Carta na Íntegra:
"A
minha hora chegou. E tá tudo bem, gente. Tive a oportunidade e o
privilégio de me preparar pra ela. Me redescobrir e receber o melhor das
pessoas. Essa é uma despedida honesta e, absolutamente, grata. A
despedida de uma vida linda, cheia de sentido, de amor e das pessoas
mais especiais que eu poderia ter tido o privilégio de conviver. Minha
família, minhas amigas e amigos e tanta gente, que apesar da pouca
intimidade, se fez tão presente, com gestos, palavras, orações, força.
Durante
o tratamento, passei por muitas fases aqui dentro de mim. E,
felizmente, encontrei as minhas próprias ferramentas psíquicas para
lidar com o câncer e com as pessoas da minha vida. E fui sustentada pela
força, o afeto, a parceria e o amor de vocês, cada um à sua maneira. E
passei a tentar compreender os sentimentos e emoções das pessoas que me
cercam, me atrevendo a entender e experimentar, da forma objetiva,
racional, mas também, empática, o que sente o outro. Pra mim, funcionou,
espero que pra vocês também. Uma certeza, morri cheia de gratidão no
coração e cercada das melhores pessoas.
Aliás, se eu puder deixar um pedido,
desmistifiquem o câncer ou outra doença grave. Desmistifiquem a morte,
afinal, ela é o maior clichê da nossa vida. Meu objetivo, desde o meu
diagnóstico foi desmistificar a doença, o processo e o fim da vida. Acho
que funcionou, vocês entenderam e eu vivi os últimos anos com dignidade
e alegria apesar do câncer. E como eu sempre repetia - com todo
respeito a dor e a maneira que cada um tem de lidar com seus perrengues -
é possível, sim, ser feliz com câncer. Eu fui.
Um
recadinho para quem me acompanhou no trecho: Sei humildemente que
sentirão saudades da minha presença, das minhas patifarias, da nossa
convivência, eu já estou... Mas, espero que se apeguem as nossas
pequenas lembranças, nossos momentos de alegria e risadas, nossas
trocas. Construam nossas memórias. Espero ter deixado material pra isso.
Para carregarem um pouquinho de mim em cada um de vocês (só a parte
boa!), mas com alegria, sem drama. Vocês sabem que drama nunca foi meu
forte.
Li, certa vez, que "o luto é o preço
do amor”. Eu, só posso agradecer o tanto de amor que vocês me dedicaram.
E desejar que vocês, meus amados e amadas, vivam esse luto, do jeito
mais leve e alegre que vocês puderem, assim como eu levei a vida.
Sabe
qual é a maior homenagem que vocês podem fazer a mim? É honrar as suas
próprias vidas, com honestidade nas relações, alegria, integridade,
empatia, amor e muita diversão, claro! Aliás, depois da minha despedida,
se juntem e vão tomar um chopp, ouvindo um samba e falando bem de mim. O
da minha mãe é escuro.
Eu deixo chorarem a minha partida, faz parte. Mas, acima de tudo, celebrem a minha vida. Estou em paz. Fiquem também".
Fonte: Metrópoles e G1