De acordo com o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), 18 municípios cearenses estão em “alerta alto” para o risco de queimadas para os próximos três meses (outubro, novembro e dezembro). A previsão leva em consideração atividades humanas, como a tendência de focos de calor, e condições naturais, como a probabilidade de chuvas serem abaixo da média, situação mais comum no segundo semestre do ano.
O Cemaden define a probabilidade de risco de fogo em cinco divisões: “alerta alto”, “alerta”, “atenção, “observação” e “baixa probabilidade”, respectivamente. Na primeira classificação, aparecem os territórios de Boa Viagem, Catunda, Coreaú, Crato, Graça, Granja, Hidrolândia, Ipaporanga, Ipu, Iracema, Mauriti, Missão Velha, Monsenhor Tabosa, Quixeramobim, Salitre, Santana do Cariri, Tamboril. Todos eles somam uma área de 25.122,67². Outros 33 municípios do Ceará estão em “alerta”, totalizando 33.822,72km² de área. Por outro lado, não há nenhum em “baixa probabilidade”.
“Isso não significa que toda a área vai queimar e sim que é a soma das áreas dos municípios que estão sob o risco previsto. Logo, tem-se mais ou menos área para monitorar, priorizando aquelas que estão com alerta mais alto”, explica Ana de Freitas, pesquisadora do Cemaden e mestre em Sensoriamento Remoto do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
O estudo do Cemaden, que é liderado pela pesquisadora Liana Anderson, se baseia na “tendência de focos de calor” e “focos de calor acumulados no período”. Também são consideras a probabilidade de a temperatura ser maior do que a média, da precipitação ser menor do que a média e o início e duração da estação seca. Atualmente, as secretarias de meio ambiente de Goiás, Mato Grosso do Sul e Acre utilizam esse produto para o planejamento das ações de combate a queimadas e incêndios florestais.
CARACTERÍSTICAS
Ana de Freitas explica que a ocorrência de fogo, neste período do ano, está condicionada pela diminuição do regime de chuvas e elevação da temperatura. Em setembro, o Estado já apresenta essa característica. “A cidade de Icó, por exemplo, registrou 79% dos focos totais do ano apenas em setembro”, observa a pesquisadora. As temperaturas devem se elevar ainda mais nos próximos meses, podendo chegar a 38ºC.
Com o tempo mais seco, a vegetação não está úmida e facilita que qualquer fogo que se inicie acabe gerando um incêndio mais potente, ocorrendo mais registros. “Numa condição diferente do ano, se alguém passa na estrada e joga um cigarro aceso, por exemplo, a vegetação está úmida, a temperatura baixa e esse fogo não vai se alastrar a ponto de ser detectado pelos sensores”, exemplifica Ana.
A Caatinga acaba sendo mais afetada, mesmo as plantas sendo mais preparadas para sofrer com os estresses da falta d’água e do aumento da temperatura. “Elas são adaptadas para lidar com a aridez do solo, onde as próprias plantas perdem as folhas, porque tenta preservar a água que reteve no período chuvoso, evitando perda de umidade pela elevada transpiração”, detalha a pesquisadora. “Essa condição não é necessariamente associada a uma boa relação com a ocorrência de fogo, o que acaba deixando bastante impacto e degradação ao ser atingido. Isso tem levado, ao lado de outros fatores, à desertificação”, completa a pesquisadora.
A maioria dos resultados de modelos que projetam os cenários futuros de temperatura e precipitação “são bem preocupantes”, define Ana. Por isso, a pesquisadora defende a instituição de uma Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo para reduzir a incidência e criar cooperação entre a União, os estados, os municípios, as entidades privadas e a sociedade civil. “Podemos gerar condições de um preparo melhor contra incêndio e criar ferramentas que protejam as áreas internas de vegetação”.
SETEMBRO
De acordo com a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), o Ceará registrou, no último mês de setembro, 12.007 focos de calor em 179 municípios do Estado, conforme dados de 10 satélites. As maiores concentrações foram em Icó (1222 focos), Sobral (521), Saboeiro (518), Ibiapina (401) e Acopiara (388). Juntos, esses municípios concentraram, aproximadamente, 25% das ocorrências registradas no Ceará.
Os dados são provenientes da plataforma do Programa de Queimadas do
Inpe e processados pela Funceme com intuito de quantificar e
espacializar os focos de calor sobre áreas de interesse. “A Funceme
utiliza informações de todos os satélites de monitoramento a fim de
detectar qualquer indício de fogo sobre a vegetação. Embora, ao utilizar
dados de todos os satélites, pode haver uma superestimativa na contagem
de focos de calor. Isso ocorre porque um episódio de queimada pode ser
detectado por vários satélites em horários de passagem diferentes,
especialmente se a queimada for de grande proporção e de longa duração,
como um evento de incêndio florestal, por exemplo”, explica Frank Baima,
pesquisador da Funceme.
Foto: Antonio Rodrigues
Em 2020, o então governador do Ceará, Camilo Santana (PT), decretou estado de emergência ambiental devido a incêndios pela primeira vez na história. Naquele ano, o número de focos de calor de setembro, por exemplo, foi abaixo ao que ocorreu no mês passado – 440 contra 636. O OPINIÃO CE questionou a Casa Civil se um novo decreto será publicado em razão dessa problemática para 2023, mas não teve resposta até o fechamento desta matéria.
Já a Secretaria de Meio Ambiente do Estado (Sema) informou que um Plano de Ação de Prevenção e Combate à Incêndios está em fase de elaboração, onde prevê a constituição de equipes de brigadistas. Contudo, a pasta não deu mais detalhes sobre o lançamento e número de grupos que serão formados. Por outro lado, alguns municípios do Interior do Estado têm se mobilizado na prevenção e combate às queimadas. Em Juazeiro do Norte e Barbalha, por exemplo, foi criado um canal de denúncias, que aciona o Grupamento Ambiental Metropolitano. A preocupação se estende às áreas urbanas. “A prática de atear fogo, principalmente em terrenos, é crime, que além de processos na esfera administrativa, pode resultar na reparação do dano causado à vítima do incêndio”, alertou o superintendente da Autarquia de Meio Ambiente de Juazeiro do Norte, Eraldo Oliveira.
INCÊNDIOS EM VEGETAÇÃO
Segundo o Corpo de Bombeiros do Ceará, que leva em consideração o número de ocorrências, quando os militares são acionados, mais de 4 mil incêndios em vegetação foram debelados entre janeiro e setembro deste ano em todo o Estado. Os números já representam um aumento de 71% se comparados ao do mesmo período de 2022. O salto é de 2.404 para 4.118 incêndios em vegetações. Somente em setembro de 2023, o Corpo de Bombeiros do Ceará apagou 1.757 incêndios em vegetações, o maior número de atendimentos desta tipologia nos últimos cinco anos. Em todo o ano de 2022, os militares apagaram 5.214 incêndios em vegetações, número inferior ao dos anos de 2021, 2020 e 2019, quando a corporação debelou, respectivamente, 6.751, 7.125 e 6.097 incêndios em vegetação.
Para evitar esse tipo de ocorrência, a orientação das autoridades é tomar cuidados simples que impedem o início ou propagação do fogo. Entre as atitudes a serem tomadas está, por exemplo, evitar queimar qualquer tipo de material em áreas abertas, especialmente em terrenos baldios. A princípio, o fogo pode se alastrar rapidamente e causar incêndios de grandes proporções.
É recomendado ainda mantet a vegetação próxima às residências limpa e organizada, realizando a poda adequada de árvores e arbustos, removendo galhos secos e folhas acumuladas. A medida ajuda a evitar a propagação do fogo em caso de incêndios.
Por fim, é importante informar imediatamente o Corpo de Bombeiros Militar em caso de focos de incêndio. Em caso de avistar qualquer foco de incêndio em vegetação, mesmo que aparentemente pequeno, é preciso entrar em contato com o Corpo de Bombeiros, por meio do número de emergência 193. O acionamento rápido pode evitar que o fogo se alastre e cause danos maiores. A ligação é gratuita e o serviço funciona 24 horas por dia, sete dias por semana.
Fonte: Opinião CE