A
situação veio a público na segunda-feira (11) após os perfis da dona da
clínica começarem a publicar uma série de imagens que mostravam várias
clientes filmadas enquanto se trocavam ou enquanto aguardavam os
procedimentos iniciarem. O g1 conversou com exclusividade com duas
mulheres que tiveram as imagens expostas e teve acesso ao boletim de
ocorrência.
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública do Ceará
afirmou que investiga a denúncia de crime contra a dignidade sexual,
praticado em ambiente virtual, conforme relatam as clientes que tiveram
imagens íntimas vazadas. A Delegacia de Defraudações e Falsificações
destacou que a dona da clínica também registrou um boletim de ocorrência
em que afirma que teve seu perfil invadido.
Conforme uma vítima
que prefere não se identificar relatou ao g1, ela frequentava a clínica
há cerca de dois meses para fazer serviços de drenagem após ter passado
por uma cirurgia no abdômen.
“Ela sempre filmava a gente sem a
gente perceber. Ela ficava em um canto sentada, numa mesinha que ela
tinha, enquanto a gente botava a cinta ou alguma coisa do tipo, porque
como era um procedimento muito invasivo, que também pegava as partes
íntimas, querendo ou não a gente tinha que ficar sem roupa, mas em
nenhum momento a gente esperava que tava sendo filmada”, desabafa.
“Eu
não sabia que estava sendo filmada e ela alega que o celular dela foi
invadido, que colocaram um aplicativo que ele filmava 24 horas, sendo
que isso é mentira, entendeu? Porque tem algumas filmagens que aparece
eu nem olhando para câmera, eu totalmente olhando para o outro lado,
então assim ela filmava essas clientes indevidamente, sem a nossa
autorização”, completa.
Em conversa com a reportagem, a
proprietária da clínica de estética, Val Silveira, afirmou que era
extorquida por um homem com quem se relacionava online e pelos comparsas
dele. Ao g1, a mulher afirmou que gravou os vídeos sob coação por ordem
da quadrilha e que não sabe qual o destino das imagens.
A
informação é diferente da que consta no boletim de ocorrência (BO)
prestado pela dona da clínica, ao qual o g1 teve acesso. No documento,
ela afirma que a quadrilha teria instalado aplicativos que davam acesso a
todo o sistema do seu celular, e que nunca fazia vídeos das clientes
por conta própria, apenas fotos.
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Secretaria de Segurança Pública afirma que está investigando o caso como
crime contra dignidade sexual — Foto: Josemir Mendes/Google Street View. |
Vítimas se preocupam para onde imagens foram enviadas
Além
de denunciar a gravação sem consentimento, as mulheres filmadas também
denunciam a exposição que estão sofrendo nas redes sociais e temem que
os vídeos gravados estejam circulando em outras plataformas.
No
dia em que começou a publicação dos vídeos, o suposto hacker afirmou que
a dona da clínica estava vendendo os vídeos que gravava das clientes.
No entanto, quem respondeu às publicações para receber mais provas,
conforme pedia o suposto hacker, não recebeu respostas sobre para onde
os vídeos eram enviados ou mesmo se eram enviados para algum espaço.
“A
gente não sabe de site, a gente não sabe para quem foi que ela vendeu.
Dizem que para pessoas de fora, dizem que é para homens que têm
dinheiro. Eu não sei", afirmou a vítima ao g1.
“A pessoa [que
está postando] disse que tem vários vídeos, vários vídeos que ela fez,
não foi só um nem dois, são vários. Ou seja, eu fui para lá mais de 30
vezes, então deve ter muitos vídeos meu ainda para rolar”, lamenta.
O
g1 conversou com uma segunda cliente da clínica. Ela buscou a
reportagem após descobrir que sua irmã e uma colega, que frequentavam o
local, haviam sido filmadas nuas sem consentimento. Conforme esta
cliente, a dona da clínica costumava fingir que estava usando o celular
para outros assuntos enquanto filmava as vítimas.
“Quando
você vai fazer um procedimento assim estético, você fica mais à vontade,
a pessoa está ali de costas, nem percebe que está sendo filmada, e você
vê ali que ela fica geralmente em uma cadeirinha mexendo no celular,
como se estivesse mandando áudio, como se estivesse mandando mensagem,
enquanto você está se trocando. Mas ela não está mexendo no celular,
gravando áudio, fazendo outra coisa, ela está filmando você”, afirma.
Esta
segunda cliente também destacou que as filmagens não ocorriam no
momento em que a dona da clínica ia registrar o resultado dos
procedimentos, prática comum no mercado.
“Ela realmente pede para
tirar foto do antes e do depois. Só que os vídeos publicados não são de
antes e depois. E mesmo que fossem, era para ser foto da pessoa vestida
de biquíni, não da pessoa nua. Porque a pessoa não autorizou isso. Os
vídeos que foram publicados foram de outros momentos, quando a pessoa
está ali se trocando para subir na maca e ela tá ali escondidinha,
fingindo que tá mexendo no celular, quando, na verdade, ela tá
filmando”, completou.
Assim como a primeira vítima com quem o g1
conversou, a segunda cliente tem receio de onde os vídeos gravados
possam ter sido compartilhados. “Minha colega, ela está saindo para
trabalhar, ela não tá se alimentando, ela tá muito nervosa porque a
gente não sabe onde é que esses vídeos foram parar”, revela.
Dona da clínica diz que foi hackeada e vítima de extorsão
Em
entrevista ao g1, a dona da clínica, que também compartilhou o boletim
de ocorrência com a reportagem. Conforme a mulher, ela vinha mantendo um
relacionamento online com um suposto empresário de São Paulo, e os dois
teriam marcado um encontro presencial em novembro em Fortaleza.
De
acordo com a mulher, o homem não apareceu no encontro, mas enviou um
grupo de pessoas que teriam roubado seus celulares e afirmado que iriam
controlar sua clínica. No período entre o encontro e a publicação
indevida das imagens, ela diz ter sido extorquida em cerca de R$ 10 mil.
No
boletim de ocorrência, ela também diz que o grupo instalou aplicativos
que permitiam controlar seu celular e que eles haviam feito as filmagens
sem o seu consentimento.
Em conversa com o g1 na tarde da
terça-feira (12), contudo, a dona da clínica contou que ela mesmo havia
feito as gravações, mas que estava sendo obrigada a gravar as clientes
pelo grupo, e que não sabia qual o uso que eles fariam das imagens.
Ela
também disse que o grupo vinha controlando as suas redes sociais há
algum tempo, e que os vídeos começaram a ser publicados após descumprir
as ordens deles.
Fonte: G1