Outros dois suspeitos pelo ataque também foram acusados. O processo está em segredo de Justiça

O influenciador Antonio Victor de Araújo Ferreira, o 'Moscow', de 18 anos, foi denunciado pelo Ministério Público do Ceará (MPCE) por uma tentativa de chacina na Barra do Ceará. Outros dois suspeitos pelo crime também foram acusados.
O MP confirmou que fez a denúncia no último dia 15 de maio e que no dia seguinte o Poder Judiciário recebeu a acusação. Com isso, o trio agora está na condição de réu na Justiça.
Um segundo suspeito pelo crime é identificado como Igor Rodrigues da Cruz, o 'Lec-Lec'. O terceiro envolvido não teve o nome revelado. O processo segue sob sigilo.
O ataque teria sido ordenado por 'Moscow' em retaliação à morte da namorada dele, a influencer Francisca Bianca dos Santos Souza, assassinada horas antes da tentativa de chacina.
Quem também foi morta a tiros ao lado de Bianca foi a irmã dela, Maria Beatriz Santos de Souza. Beatriz seria namorada de 'Lec-Lec'.
As vítimas também eram influenciadoras digitais — com forte presença no Kwai e na divulgação de plataformas de jogos de azar, como o Tigrinho — e foram mortas a tiros por integrantes da facção Comando Vermelho (CV)
ENVOLVIMENTO EM FACÇÃO
'Moscow' também se intitula influenciador digital. Ele tem mais de dois milhões de seguidores no Kwai e 458 mil no Instagram.
Em um vídeo de 2020, 'Moscow' aparece mencionando a organização criminosa Guardiões do Estado (GDE), rival do CV. No vídeo, publicado nas redes sociais, ele afirma: "Agora vai ser o crime, é 745 GDE até o fim, pode me decretar" (sic).
Devido à sua influência na facção, a Polícia acredita que teria sido "fácil" para a GDE acatar a ordem de Antônio Victor para revidar o ataque à namorada e à cunhada, especialmente por ele fazer "publicidade gratuita" do crime nas redes sociais. "Uma ordem de execução vinda dele seria facilmente acatada pela GDE, principalmente para vingar a morte das duas adolescentes, sendo uma delas grávida", aponta o documento, indicando a possibilidade de Bianca ter morrido gestante.
No entanto, 'Moscow' disse que na hora da tentativa de chacina ele estava na comunidade onde mora, rezando com parentes e vizinhos em virtude da morte da namorada e da cunhada. Ele afirmou ter testemunhas que podem comprovar o álibi.
Após o duplo homicídio das jovens, o suspeito chegou a fazer uma série de publicações na internet garantindo que as mortes seriam vingadas: "Isso foi covardia demais. Mexeram com as pessoas erradas. Isso não vai ficar assim, pode ter certeza", ameaçou ele no Instagram.
5 feridos na tentativa de chacina no dia 2 de maio de 2025

Legenda: O ataque aconteceu logo após a morte de duas irmãs influencers - Foto: Reprodução/Redes Sociais.
ESCOLHA DOS ALVOS
Há informação de que 'Moscow' era o alvo inicial do ataque do CV. No entanto, como não o encontraram, os criminosos rivais atraíram Bianca e Maria Beatriz para o local do crime e assassinaram as irmãs no lugar dele.
A suspeita é que, como revide, o influencer escolheu atacar um grupo de pessoas de uma área comandada pela facção carioca, em uma espécie de vingança somada a uma disputa territorial.
De acordo com documentos obtidos pela reportagem, 'Moscow' estava na mira do CV após testemunhar, em dezembro do ano passado, no procedimento que tratava da tentativa de homicídio de Antônio Carlos Martins Lisboa, que morreu em abril deste ano. O irmão da vítima depôs que a motivação do homicídio foi uma disputa territorial entre facções rivais, uma vez que Carlos morava em uma área onde predominava a GDE e passou a residir na área de atuação do CV.
'Moscow' e Igor foram capturados em flagrante pela tentativa de chacina e por integrar organização criminosa. Eles tiveram as prisões em flagrante convertidas em prisão preventiva.
Igor, teria assumido em depoimento que esteve no local do crime com outros indivíduos a mando do amigo, mas que teria ficado dentro do carro. Já o amigo, considerado mandante, ainda antes de ser preso, foi às redes sociais negar qualquer envolvimento com o crime.
Quase 20 dias após o duplo assassinato das irmãs, ainda não há prisões diretamente relacionadas ao caso.
*Diário do Nordeste