A vítima sobreviveu ao ataque ao se fingir de morta. Os três acusados do crime estão presos

Relatos de violência doméstica, ciúmes e tentativa de suborno estão por trás da tentativa de feminicídio sofrida por Maria Alexandra da Silva Nascimento, na madrugada de 7 de junho de 2025, em Juazeiro do Norte, no cariri cearense. A vítima, que sobreviveu ao ataque ao fingir-se de morta, foi alvo do ex-companheiro, Paulo Victor Macena da Silva, com a ajuda de dois comparsars: Ian Tevez Barbosa Mendes e Daniel Bezerra de Lacerda, segundo as investigações.
O trio foi preso e denunciado pelo Ministério Pùblico do Ceará (MPCE) por tentativa de homicídio qualificado. A reportagem não conseguiu contato com a defesa dos três homens.
A investigação policial revelou que o crime foi planejado na noite do dia 6 de junho. Conforme documentos obtidos pela reportagem, Paulo Victor Macena da Silva enviou uma mensagem à ex-namorada, Maria Alexandra, prometendo-lhe R$ 2 mil para que ela ficasse em silêncio sobre algo que ele não queria que fosse revelado. Preocupada com a família, Maria Alexandra não contou a ninguém sobre o encontro, que foi marcado em frente a um restaurante.
Ao chegar ao local combinado, Paulo Victor levou a ex-namorada em uma moto, pertencente a Daniel Bezerra de Lacerda, para um lugar ermo, escuro e sem iluminação pública, nas imediações da Rua Apolônio Macedo, no bairro São José. Maria Alexandra percebeu que algo estava errado, mas Paulo Victor a enganou dizendo que precisava urinar. Assim que ela desceu da moto, Paulo gritou: “Segura ela!”.
Nesse momento, Ian Tevez Barbosa Mendes, que estava escondido em uma casa abandonada, agarrou Maria Alexandra por trás e imobilizou a vítima. Em seguida, segundo o Ministério Público, Paulo Victor começou a esfaquear a ex-namorada pelas costas e no pescoço.
"Tu vai morrer, safada"
Conforme ainda as investigações, durante as agressões, ele teria dito: “tu vai morrer, safada!”. Maria Alexandra tentou se defender e feriu as mãos ao tentar segurar a faca. Após as agressões, e com ferimentos pelo corpo, ela se fingiu de morta, o que acabou por salvar a vida dela. Acreditando que a vítima estava morta, os agressores fugiram.
Após a fuga dos acusados, Maria Alexandra conseguiu se arrastar até uma estrada de terra, onde foi socorrida por um motociclista que acionou a Polícia. Ela foi levada ao Hospital Regional do Cariri por uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Na unidade de saúde ela passou por cirurgia e foi internada na UTI em estado grave.
Violência brutal
O laudo elaborado pela Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce) confirmou a gravidade das lesões. O perito concluiu que Maria Alexandra sofreu violência física por meio cruel. Ela apresenta cicatrizes permanentes, ficou incapacitada para suas ocupações habituais por mais de 30 dias. O laudo também menciona lesões na jugular, carótida esquerda e traqueia.
A denúncia do Ministério Público do Ceará, obtida pela reportagem, aponta que a motivação do crime foi fútil, decorrente do ciúme de Paulo Victor por não aceitar o fim do relacionamento. Segundo o MPCE, “ele agiu em contexto de violência doméstica e familiar, com menosprezo à condição de mulher, crueldade, emboscada, e em descumprimento de medidas protetivas”.
Maria Alexandra já havia solicitado medidas protetivas no Juizado da Violência Doméstica de Juazeiro do Norte, que foram deferidas em 16 de janeiro de 2025 e estavam em vigor. Essas medidas incluíam a proibição de Paulo Victor se aproximar da vítima a menos de 200 metros e de se comunicar com ela por qualquer meio.
No entanto, Paulo Victor desrespeitava as ordens judiciais. Familiares da vítima relataram que ele chegou a dizer que, mesmo se fosse preso, ao sair da cadeia acabaria com toda a família de Alexandra.
A investigação aponta ainda que Paulo Victor teria prometido pagar R$ 5 mil a Ian Barbosa para que este o ajudasse a matar a vítima. Ian, em seu depoimento, confessou ter participado do crime em troca dessa promessa de pagamento, embora afirme que o valor nunca lhe foi entregue.
*Diário do Nordeste