Produção aumenta 360% em uma década em meio ao clima menos quente na divisa entre o Ceará e o Piauí.
A cidade mais alta do Ceará é um dos principais polos agrícolas do Estado. Está em Guaraciaba do Norte, em cima da Serra da Ibiapaba, os pomares que fazem com que o município seja a capital cearense do tomate, e os motivos que levam a essa posição incluem a própria geografia.
O clima de Guaraciaba do Norte é bem mais ameno do que outras áreas do Estado, como explica Francisco Antônio 'Novato', produtor rural no município há 39 anos. O carro-chefe da produção é o tomate, mas também há o plantio e a colheita de outras frutas, legumes e verduras, como pimentão, abacate, maracujá e repolho.
Os produtores aqui são perseverantes, quase todo mundo veio de baixo. Na época do algodão, fazia uma safra no sertão e comprava uma casa na serra. Agora, virou o contrário. Aqui tem terras boas e temos conhecimento. A maioria dos produtores é altamente afiada nisso, porque são nativos nisso".
A produção dele é familiar e estruturada. Ao lado do irmão, o produtor toca a empresa agrícola FA Justino. O filho, Gerson, é engenheiro agrônomo, estudou em Fortaleza e retornou às propriedades da família.
"Hoje tem a facilidade da tecnologia, ficou mais fácil de produzir. Passamos mais segurança ao consumidor e ao produtor que está trabalhando com a gente. Sofríamos muito com veneno, pragas, mas hoje trabalhamos dentro de uma estufa protegida", explica Antônio.
Serra da Ibiapaba é o maior polo agrícola do estado, diz secretário
Silvio Carlos Ribeiro, secretário-executivo do agronegócio da Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SDE) do Ceará, dá a dimensão do tamanho da produção agrícola nas cidades da Serra da Ibiapaba.
O destaque de Guaraciaba do Norte e nas cidades vizinhas no cultivo de frutas, legumes e verduras (FLV) e nas flores foi um dos temas discutidos no Coalizão Agro Ibiapaba, evento realizado na cidade e que reuniu produtores e especialistas no agronegócio cearense.
De acordo com Sílvio Carlos, os nove municípios que estão na Serra da Ibiapaba "tem o maior valor bruto da produção agrícola do Estado".
Além das condições climáticas propícias para o cultivo de FLV e flores de alto valor agregado, o titular do agronegócio da SDE pondera que a tecnologia empregada maximiza a produção e, consequentemente, o preço dos produtos.
"Produzimos hortaliças, flores e agricultura moderna com alto valor agregado, produtividade, usando irrigação de alta tecnologia, principalmente utilizando cultivo protegido nas estufas. Essa agricultura gera muita riqueza e traz esse cenário para o Estado. Produz-se mais aqui do que em qualquer região do Ceará", observa Sílvio Carlos.
O secretário do agronegócio da SDE ainda complementa, afirmando que o tomate tem o maior valor bruto de produção dentre os cultivos agrícolas do Ceará.
Legenda: Antônio Novato, produtor rural de Guaraciaba do Norte. Foto: Luciano Rodrigues/Diário do Nordeste
Antônio Novato explica as mudanças feitas na plantação dele de tomates ao longo dos últimos quase 40 anos.
Isso inclui uma redução drástica do uso de agrotóxicos - e de pragas -, na adubação e irrigação das plantas e no modo como as mudas do fruto são transplantadas para o solo, além do plantio dentro de estufas com controle de entrada e saída.
"Antes a gente usava um mangueirão para aguar as plantas. Agora é uma irrigação localizada. Cortava as raízes da planta para adubar, hoje não precisa, é solúvel, coloca-se o adubo na água", reforça.
"Paixão de produtor" faz negócio prosperar em Guaraciaba do Norte
A volta de Gerson para a produção de FLV do pai fez com que o produtor rural catapultasse a sua produção. Em média, a produção de tomates de Antônio Novato subiu 25% nos últimos dois anos, mas vários tomateiros aumentaram em até 50% a quantidade dos frutos.
Hoje com 55 anos, Antônio Novato tinha 16 quando começou a plantar tomates. Atualmente, a propriedade dele conta com 52 meeiros rurais, que dividem os lucros e as terras com o produtor.
Legenda: Aos 55 anos, Antônio 'Novato' produz tomates desde 1986 em Guaraciaba do Norte. Foto: Luciano Rodrigues/Diário do Nordeste.
Os tomates representam 50% da produção dele, com 80 mil caixas de 33 quilogramas (kg) ao ano. Já os pimentões representam 25 mil caixas anuais. Segundo Antônio Novato, os pimentões, chuchus, pepinos, maracujás, abacates e laranjas da propriedade dele compõem a outra metade do faturamento.
Atinge umas 40 mil caixas ao ano essas outras coisas, mas quando a gente começou, era bem mais difícil as coisas. Nosso transporte era um jumento para a gente trabalhar, depois uma bicicleta e o negócio foi melhorando. Hoje não são só os dois irmãos que trabalham, são quatro, e o engenheiro agrônomo é meu filho. Aqui tem a paixão de produtor".
Tomates ficam no mercado interno
A colheita dos tomates é feita a cada dois dias, e após um tomateiro dar frutos, ele é retirado para dar lugar a outra muda, que leva cerca de quatro anos para frutificar tomates.
Antônio Novato abastece as Centrais de Abastecimento (Ceasas) nas regiões metropolitanas de Belém, Fortaleza e Teresina, bem como as redes supermercadistas R Carvalho e Vanguarda, com atuação no Ceará, Maranhão e Piauí.
Na visão de Antônio Novato, a grande dificuldade está no comércio. Como o tomate é um dos produtos que tem maior variação de preço - e que acaba causando impactos na inflação -, nem sempre a produção consegue ser escoada adequadamente.
Legenda: Capital cearense do tomate, Guaraciaba do Norte reúne condições adequadas para cultivo do fruto. Foto: Luciano Rodrigues/Diário do Nordeste.
"Com preço alto, todo mundo vira produtor. O comerciante vira produtor, o dono de posto vira produtor. É o que mais oscila, mas também é o mais vendido. Se o supermercado botar o tomate em promoção, é o atrativo dos consumidores", classifica.
"O que estamos encontrando mais dificuldade é no comércio. Todo mundo acha que é fácil. Vou dar um exemplo: tenho aqui 10 mil caixas de tomate e quero vender. Não é assim. Tem que brigar por preço, em supermercado, vai por cotação", completa Antônio Novato.
Qual o tamanho da produção de tomates em Guaraciaba do Norte?
Guaraciaba do Norte, conforme os últimos dados divulgados na Produção Agrícola Municipal (PAM), levantamento elaborado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), era a 12ª maior produtora de tomates do Brasil - e a maior do Ceará.
Foram 61,5 mil toneladas colhidas no ano passado na cidade. O Ceará, que se manteve na vice-liderança da produção de tomate no Nordeste, atrás apenas da Bahia, teve colheita de 197 mil toneladas.
Já a produção de tomate em Guaraciaba do Norte em 2024 rendeu R$ 154,1 milhões, décimo maior rendimento nacional e segundo maior do Nordeste. Mucugê (BA) tem o maior rendimento da região, com R$ 188,7 milhões.
Legenda: Plantação de tomates em Guaraciaba do Norte é protagonista dentro e fora do Ceará. Foto: Luciano Rodrigues/Diário do Nordeste.
No último dado do Produto Interno Bruto (PIB) do município, disponibilizado pelo IBGE e referente a 2021, a produção de tomates no município corresponde a 23% de tudo o que é produzido em Guaraciaba do Norte.
Produção de tomate no Ceará em 2024 rendeu R$ 551,8 milhões, o sexto maior rendimento nacional. A Bahia é líder do Nordeste.
O repórter viajou a convite do Coalizão Agro Ibiapaba.
*Diário do Nordeste