No 3D Cannabis Center, eles encontraram maconha saborizada para atender a todo paladar –menta, bala de goma, frutas cítricas e até mesmo trufas e pralina. "Nós recebemos ontem estilo suíço", diz o vendedor, apontando um chocolate amargo. A seleção também inclui variedades como Cookies & Cream ou tangerina com chocolate. Tudo, é claro, contendo maconha.
"Tudo tem entre 80 miligramas ou 40 miligramas de THC", explica o vendedor atrás do balcão. THC é a abreviação de tetrahidrocanabinol, o agente psicoativo da maconha.
Pouco tempo depois, John, um engenheiro, sente o cheiro adocicado de uma das numerosas variedades.
Incrível", diz, desfrutando o momento. Em casa, a única opção para comprar maconha é de vendedores em partes suspeitas da cidade. Agora, pela primeira vez, ele e sua esposa, uma recepcionista, estão em um estabelecimento alegre, não diferente de uma mercado, com piso de madeira e balcões de vendas. Eles não sabem por onde começar.
Será que optam pela "Silverback Gorilla", que cresce no solo e tem aroma terroso? Ou talvez a "Death Star", que nas palavras do vendedor é "o céu"? É o produto de 10 anos de cultivo.
Em um país mais conhecido pelas penas draconianas que aplica aos crimes ligados às drogas, uma revolução improvável está em andamento nos Estados Unidos. A maconha já foi aprovada para fins medicinais em mais de 20 Estados. Em muitos lugares, mesmo pessoas com males menores como uma dor de cabeça ou leve depressão têm pouca dificuldade em obter uma prescrição.
Após referendos dos eleitores, os Estados de Washington e do Colorado legalizaram plenamente a maconha em 1º de janeiro. As decisões provocaram uma onda de turismo em massa aos Estados por pessoas como John e Jane.
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Maconha
queima neurônio? PARCIALMENTE VERDADE: estudos comprovam que fumar
maconha antes dos 15 anos de idade diminui o QI, mas essas mesmas
pesquisas mostram que, após os 20 anos, a maconha não traz problemas
cognitivos. "Essa diferença tem a ver com a maturação do cérebro, porque
na adolescência ele ainda está terminando de se formar. Entre os 15 e
os 20 anos é uma faixa nebulosa, onde não foi possível comprovar qual o
impacto. Ainda assim, consideramos uma idade de risco", explica Thiago
Marques Fidalgo, psiquiatra do Hospital A.C.Camargo Leia mais Getty Images
Empreendedores de maconha como Toni Fox, a dona do 3D, estão prosperando como resultado. A mulher de 42 anos diz que o movimento era tamanho no início e a oferta tão limitada que ela só conseguia abrir nos fins de semana. Novos cultivadores de maconha estão surgindo por todo o Estado para atender a enorme demanda. Em alguns casos, os proprietários estão cobrando duas a quatro vezes os valores de mercado para aluguel de prédios grandes o bastante para cultivo de maconha.
Em outras partes do país, mesmo onde a maconha ainda não foi legalizada, plantações de alimentos estão surgindo no meio do nada enquanto as empresas se preparam para atender o mercado. Startups de tecnologia estão oferecendo aplicativos para consumidores e técnicos estão desenvolvendo diversos vaporizadores –basicamente cigarros eletrônicos para maconha, que podem ser comprados como dispositivos descartáveis ou mesmo como objetos caros de design.
Investidores estão começando a levantar dinheiro para entrar no mercado gigante o mais cedo possível. Analistas dizem que há um mercado potencial para a maconha que pode chegar a US$ 110 bilhões, quatro vezes a receita gerada anualmente pela indústria do tabaco.
Comparações estão sendo feitas com a era pontocom, à corrida do ouro do século 19 ou mesmo ao fim da lei seca nos anos 30, quando ocorreu um crescimento imenso da indústria do álcool. E todo mundo está tentando entrar no jogo –idealistas assim como homens de negócios realistas, charlatães, gênios e malucos.
Com seu casaco vermelho e vestido plissado cor de rosa, Fox não é o tipo de mulher que alguém imaginaria ser parte da cena de maconha. Ela iniciou seu negócio depois que seu irmão foi para a cadeia para cumprir uma pena de 10 anos por vender maconha aos amigos. A punição draconiana inspirou Fox a se tornar uma "ativista de maconha".
Mãe de dois filhos, ela participou de protestos e até mesmo abriu seu próprio negócio, que inicialmente só podia vender maconha para fins medicinais. Ela também apoiou o grupo de lobby "Mães pela Maconha".
Como muitos outros membros do movimento pela legalização, Fox está convencida de que a maconha é um dos melhores medicamentos para ajudar a tratar doenças como câncer, epilepsia ou mal de Alzheimer –e certamente é melhor que o álcool.
Sentada em um sofá bege em sua sala de espera, é difícil dizer se seus olhos vidrados são produto da maconha ou de exaustão. Desde a legalização plena da maconha no Colorado, ela dificilmente tem tempo de folga. "Em 1º de janeiro, as pessoas aguardaram cinco horas para entrar", diz. A popularidade do negócio resultou em lucros durante os três primeiros meses do ano superiores aos dos últimos três anos somados.
Fonte: Uol Notícias