"Eles
acharam que estavam ameaçando um, mas ameaçaram 8 mil", diz PM que
participou de "escolta solidária" à casa de militar ameaçado
Uma
verdadeira força-tarefa foi montada por policiais militares na porta da
casa de um outro policial, na noite desta segunda-feira (17), no bairro
Santa Rita, em Vila Velha. Cerca de 50 militares participaram do ato de
solidariedade ao colega, que sofria ameaças após tiroteio no bairro no
último fim de semana.
De acordo com um dos policiais que participou da reunião, os militares que compareceram estavam de folga e marcaram tudo pelas redes sociais. Segundo ele, policiais de todos os batalhões foram até o local para dar apoio ao "irmão de farda".
"Fizemos
isso para os criminosos verem que o militar não está sozinho. A gente
vê isso acontecer com um colega e pensa que poderia acontecer também com
a gente. Não parou de chegar gente durante toda a madrugada, teve PM que dormiu lá", disse o militar, que preferiu não se identificar.
De
acordo com o policial, as viaturas que faziam patrulhamento na região
encontraram um movimento tranquilo, mas essa não é a realidade do
bairro. "Estranhamente não tinha movimento nenhum do tráfico. Eles estão
esperando uma represália forte, mas nós estamos apenas apoiando um
amigo. Estamos mostrando que o tráfico não tem força para combater a PM,
eles não podem achar que estão no comando", detalhou.
Mesmo
não conhecendo o militar ameaçado, o policial tirou tempo da sua folga
para ir até o local e ficou até as 4h30 desta terça-feira. Ele explicou
que alguns policiais deixaram o local porque tinham que trabalhar, mas o
planejamento é de fazer uma escala.
"Queremos
fazer isso para que sempre fiquem militares no local. Como pode alguém
ser expulso da própria casa porque estava fazendo o trabalho que deve
fazer? Vamos ficar lá até que essa situação se resolva", disse,
categórico.
O policial disse ainda que o profissional
que estava sendo ameaçado conversou com todos os militares que foram
até lá. Segundo ele, o PM ameaçado se sentia feliz, já que nem imaginava
que tantos colegas se comovessem com a situação. "Nós sabemos como ele
se sente porque passamos pela mesma situação", completou.
Ao ser procurada, a Polícia Militar respondeu através de nota que não vai se pronunciar sobre o assunto.
"Eles
acharam que estavam ameaçando um, mas ameaçaram 8 mil", diz PM que
participou de "escolta solidária" à casa de militar ameaçado
Houve uma organização para ir até a casa do policial ameaçado?
Nós
nos mobilizamos através da rede social. Tinha muita gente lá. O pessoal
tirou o tempo da folga para demonstrar apoio ao colega, mostrar que ele
não está sozinho.
Você acha que essa comoção tem alguma ligação com a situação do soldado Feu?
Sim, sem dúvida. Os policiais não aguentam mais. É polícial morrendo no trabalho, é polícial sendo ameaçado. Isso não pode continuar. Morrer um policial não é comum, não pode ser comum. Essas situações vão agravando e os policiais vão se unindo.
Essas situações acabam sendo mais comuns com policiais morando em áreas de risco?
Sim!
Não existe apoio ao PM que sofre ameaça. Nossa ação acaba sendo também
um protesto. Alguém tem que olhar por nós, se não, quem acaba olhando
são as estatísticas, os números na rua.
O que você acha que pode melhorar o trabalho do policial?
São muitos os fatores. Não ganhamos um salário
digno do trabalho que desempenhamos. Outra coisa também é a quantidade
de burocracia. Não é difícil você ver vagabundo que você pegou três ou
quatro vezes de volta na rua. O policial faz o serviço de enxugar gelo.
Não é um serviço desvalorizado, é extremamente desvalorizado.
E como você enxerga a situação desse PM ameaçado?
É
uma situação muito complicada. O policial acaba levando o trabalho para
casa, leva o perigo para casa sempre. Você é policial 24h e não recebe
nada a mais por isso. E isso não envolve só o PM, envolve também a
família dele, que ele não consegue tirar do local, ele não pode se mudar
de uma hora para outra.
Fonte: http://gazetaonline.globo.com/