A infestação sem precedentes do mosquito Aedes aegypti, que provoca a
maior epidemia de dengue do País, acendeu a luz amarela em laboratórios
de pesquisas que correm atrás de soluções para uma política de controle
integrado da principal praga alada doméstica brasileira.
Além
da Fiocruz, no Rio, da francesa Sanofi Pasteur, e do Instituto Butantã,
que buscam a vacina salvadora, pelo menos outros 12 estudos movimentam
cientistas da Universidade de São Paulo (USP) e da Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado (Fapesp) em torno do inseto e sua peste. Investiga-se
dos hábitos das fêmeas transmissoras dos vírus à genética de machos
estéreis - e até uma inversão sexual do bicho.
"A inversão
sexual do mosquito favorece a produtividade de uma biofábrica de machos
estéreis", diz Margareth Capurro Guimarães, do Instituto de Ciências
Biomédicas da USP, que já produz mosquitos esterilizados geneticamente
para controlar infestações. Nas centenas de alas médicas lotadas por
suspeitas de dengue, todo mundo sabe que é a fêmea do mosquito rajadinho
a vilã no leva e traz dos vírus.
Essa é a parte da pesquisa que
a professora da USP chama de "supressão da espécie", uma vez que,
segundo ela, atualmente é "impossível" se pensar em erradicação do
mosquito. Para bombar os resultados da produção de espécimes machos
estéreis, 50% dos ovos produzem fêmeas, a pesquisadora faz microinjeções
em pulpas do Aedes para mudar-lhes o gênero.
A professora
lembra ainda que há, no laboratório, uma outra investigação em curso, em
fase final de testes. É a da indução gênica, ou seja, aquela que tenta
mudar o comportamento do sistema de defesa da fêmea Aedes para que ela
reaja contra o vírus da dengue, morrendo ou eliminando o agressor antes
da transmissão pela saliva na próxima vítima.
Quando pica, para
que o sangue a ajude na maturação dos ovos, ela precisa de um tempo de
10 a 12 dias para que, então, se torne transmissora potencial do vírus. É
aí que funcionaria a indução gênica planejada pela professora da USP.
Erradicado
Depois de ter atravessado o século 20 transmitindo também a febre
amarela e de ter sido erradicado no Brasil por uma década, entre 1958 e
1967, o famigerado vetor se especializou em espalhar pelo menos quatro
tipos de vírus de dengue.
Caçado de casa em casa, vaso por vaso, por
moradores e agentes de saúde que perseguem ovos e larvas, o inseto tem
as entranhas olhadas com lupa também por cientistas que lá esperam ver
proteção humana via alterações celulares.
No Laboratório de
Desenvolvimento de Vacinas da USP, chefiado pelo professor Luiz Carlos
de Souza Ferreira, buscam-se novas estratégias vacinais. No Instituto de
Ciências Biomédicas, outra equipe estuda a dengue no hospedeiro. Boa
parte do caminho já foi percorrido, explica o pesquisador Jaime Henrique
Amorim.
Ele já conseguiu provocar reação dos linfócitos T,
estruturas do sistema imunológico que matam células infectadas por
vírus, em camundongos. "Esse é um avanço que permite abrir porta para
uma vacina com proteção não só de anticorpos", explica o cientista.
A pesquisa dele está integrada ao estudo da vacina tetravalente do Butantã. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte: Uol Notícias
