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Justiça afasta prefeito de Juazeiro por 180 dias

Raimundo-Macedo 

Juazeiro do Norte. O juiz Gucio Carvalho Coelho, que responde pela 1ª Vara Cível de Juazeiro do Norte deferiu nesta segunda-feira (22) pedido de Ação Cautelar apresentado pelo Ministério Público do Estado (MPE), através dos promotores de Justiça Breno Rangel Nunes da Costa e José Silderlandio do Nascimento, autores da Ação Civil Pública por Improbidade Administrativa que investiga denúncias contra a administração pública local, e afastou, por um prazo de 180 dias, o prefeito do município, Raimundo Mâcedo (PMDB). 

Além do afastamento, a justiça decretou, ainda, o bloqueio de bens de Raimundão, como é popularmente conhecido, num volume de recursos próximos a R$ 3 milhões.

Com o afastamento de Raimundo Mâcedo, o vice-prefeito, Luiz Ivan Bezerra de Menezes (PTB), irmão do deputado federal Arnon Bezerra, do mesmo partido, deverá assumir o comando administrativo do município durante o prazo em que o peemedebista estiver impedido. Até o início desta noite, a notificação em torno da decisão do Judiciário ainda não havia sido entregue ao presidente da Câmara de Vereadores de Juazeiro do Norte, que deverá dar posse ao vice-prefeito.

Em abril deste ano, o MPE instaurou inquérito para apurar denúncias de irregularidades num processo de desapropriação realizado pelo Município em favorecimento a empresa AC Imóveis. O terreno seria utilizado pelo Município para construção do Anel Viário da cidade, cujo a obra ainda não foi iniciada. 

O imóvel, que possui cerca de 366 mil metros quadrados, foi adquirido pela empresa através de uma transação comercial envolvendo os antigos proprietários pelo valor de R$ 2, 3 milhões. O pagamento relativo a desapropriação, no entanto, custaria aos cofres do município cerca de R$ 8,2 milhões, sendo que a área negociada pela prefeitura possui, apenas, 82 mil metros quadrados, o equivalente a 1/5 de todo o imóvel. A prefeitura, inclusive, já havia feito o pagamento de R$ 3 milhões à empresa por conta da desapropriação da área.

“O imóvel foi comprado pela empresa dois meses antes, de herdeiros, por R$ 10, 9 milhões, segundo consta na escritura de compra e venda. Ficou constatado que este valor era um engodo, porque os herdeiros receberam, apenas, R$ 2, 3 milhões pela venda do terreno, ou seja, por 366 mil metros quadrados foram pagos pouco mais de R$ 2 milhões, enquanto o município estaria pagando por 1/5 desta área um valor quatro vezes maior. Só aí já se percebe o superfaturamento dessa compra feita pelo município”, explicou o promotor de justiça Breno Rangel.

Segundo ele, a aquisição do imóvel junto aos herdeiros e a negociação feita com a prefeitura foram realizadas pela mesma pessoa, o empresário Marnewton Tadeu Pinheiro de Oliveira, que pertencia ao quadro societário da AC Imóveis. “Durante as investigações foram constatadas diversas irregularidades. 

Os herdeiros que venderam o terreno para a empresa eram representados pela pessoa chamada Marnewton Tadeu Pinheiro de Oliveira, que havia saído do quadro societário da AC Imóveis dez dias antes da negociação, ou seja, ele saiu da empresa apenas para realizar a aquisição do terreno. Após isso, ele mesmo assinou, pela empresa AC Imóveis, o Termo de Acordo de Indenização com o Município”, informou o promotor.

Também foi diagnosticado que para a realização do pagamento aos herdeiros do terreno, uma conta bancaria exclusiva foi aberta pela AC Imóveis. “Foi verificado, através de extrato bancário, que nesta conta, onde deveria haver os pagamentos do imóvel, não foram efetuados depósitos apenas pela empresa. Outras pessoas também realizaram pagamentos. 

Dentre estes outros pagamentos, nós já conseguimos diagnosticar um depósito no valor de R$ 150 mil efetuado pelo Shopping Center de Juazeiro, que é da família do prefeito; um depósito de R$ 150 mil do filho do prefeito, conhecido como “Maurinho”; e , entre junho e agosto de 2013, o Shopping Juazeiro depositou, na conta do Marnewton, R$ 130 mil. 

Neste período, o Marnewton depositou cerca de R$ 150 mil na conta dos herdeiros. Nessa conta também foi localizado um depósito no valor de R$ 100 mil, feito pela Flex Editora, que era uma fornecedora do município de Juazeiro do Norte”, informou o representante do MPE.

As investigações realizadas pelo Ministério Público demonstraram a existência de vínculo entre o empresário e o prefeito Raimundo Mâcedo. Documentos repassados pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF) ao MPE comprovaram que transferências financeiras foram realizadas no período de dezembro de 2010 a janeiro de 2011, ocasião em que Raimundo Mâcedo detinha mandato parlamentar como deputado federal, no valor de R$ 400 mil entre ambos.

“Essa transferência aconteceu em 2011. Isso demonstra que o liame entre eles já existia desde aquela época. O dinheiro saiu da conta do deputado, tendo o Marnewton recebido tal valor”, observou Breno Rangel.

Durante o cumprimento de mandatos de busca e apreensão, que também foram autorizados pelo judiciário, foram coletadas notas de empenhos referentes aos pagamentos relativos a desapropriação do terreno à AC Imóveis. Os documentos, conforme o órgão fiscalizador, teriam sido montados de forma fraudulenta. “Os pagamentos eram feitos e só depois o processo de emprenho era realizado. 

Foi constatado, de forma veemente, indícios de montagens destes procedimento. Dentre eles: nota de empenho, de liquidação e de pagamento não se referiam ao número da parcela do pagamento, os recibos de pagamento apresentavam irregularidades, improvisação de documento de caixa, ausência de notas de pagamentos, notas de liquidação anteriores as de sub empenho, entre outras situações”, revelou.

O MPE também buscou saber, através de levantamento, o montante de doações de áreas realizadas pela atual gestão. Um documento encaminhado pelo Tribunal de Contas dos Municípios (TCM) ao Ministério Público chegou a alertar o órgão pela quantidade de doações realizadas. “Esse documento dizia que no final do mandato do prefeito Raimundo Mâcedo, em 2008, foi constatada uma imensa e desproporcional doação de terrenos, no último mês daquele mandato, o que a gente verifica continuar acontecendo”, ressaltou o promotor informando, ainda, que entre os anos de 2013 e 2015 cerca de 30 doações e permutas de imóveis realizadas pelo município. “Dentro destas permutas e doações nós constatamos até para doadores de campanha do prefeito e até para fornecedores do município”, ressaltou.

Outros procedimentos investigam o prefeito Raimundo Mâcedo, em Juazeiro do Norte. Pelo menos cinco promotores de Justiça participam destas investigações. Nos demais casos, que não foram amplamente relatados pelos representantes do MPE, durante coletiva de Imprensa realizada nesta tarde, há indícios de peculato, associação criminosa, lavagem de dinheiro e superfaturamento em compras realizadas pela gestão municipal. “Nós temos investigações parcialmente avançadas. 

Dentre elas, há denúncias de contratação de empresas em períodos de emergência, contratação de empresas laranjas que pertenciam ao mesmo dono e que competiam entre elas durante processos licitatórios, além de investigações que estão sendo realizadas por outros colegas do Ministério Público”, comentou Breno Rangel.

Em maio de 2015, o juiz de Direito José Acelino Jácome de Carvalho, da 1ª Vara Cível, já havia determinado o bloqueio de R$ 2.200.000,00 do prefeito municipal Raimundo Antônio de Macedo, da empresa AC Imóveis e do médico Marnewton Tadeu Pinheiro de Oliveira. Com a decisão prolatada ontem, o valor bloqueado passou a ser de R$ 3 milhões, além de ter sido determinada a quebra de sigilo bancário e fiscal dos promovidos.

A reportagem tentou, durante todo o dia, ouvir o prefeito de Juazeiro do Norte, Raimundo Mâcedo, sobre a decisão do Judiciário. O telefone celular do prefeito, no entanto, passou o dia desligado ou fora da área de cobertura. Ele também não foi localizado na prefeitura ou em casa. A decisão é passível de recurso junto ao Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE)



Fonte: Diário do Nordeste