Bica do Ipu deixou de verter o tradicional "véu de noiva" que lhe deu fama |
Não há rastros de água na Bica do Ipu.
Imortalizada por ser o local onde se banhava Iracema, da obra de José de
Alencar, o local enfrenta uma de suas maiores secas. Em setembro, o
município assistiu ao último fio d’água escorrer pelo paredão rochoso de
130 metros de altura. Moradores denunciam que fazendeiros do alto da
serra estão represando as águas do riacho Ipuçaba para usá-la
em suas plantações.
em suas plantações.
Além
disso, as estações seguidas de estiagem agravaram o problema e
interromperam totalmente o fluxo da água que deveria seguir até a bica.
Moradores também acusam donos de carros-pipa de se apropriarem da água
para vender. A gerente da Área de Preservação Ambiental (APA) da Bica do
Ipu, Henriette Silva, confirma que há represamentos ilegais e venda
irregular de água.
A
gerente da APA mudou-se para Ipu há quatro meses e tenta reverter a
situação de ilegalidade. “Há uns 15 ou 20 anos, as pessoas estão fazendo
esses represamentos. São feitos por gente que trabalha com agricultura e
com outras que vendem água irregular, mas é como se ninguém soubesse o
que está acontecendo. A bica deveria ter água, não com a mesma vazão,
mas com certeza deveria”, diz.
Henriette faz levantamento para
estabelecer o número e o local exatos das barragens ilegais. Ela conta
que fazendeiros também usam as estruturas de represamento de uma antiga
usina elétrica desativada para direcionar a água para as plantações.
Além disso, vários moradores da região da serra também estariam, de
alguma maneira, desviando água para uso próprio.
Fiscalização
Em
março, fiscalização conjunta da Companhia de Gestão de Recursos
Hídricos (Cogerh), Secretaria dos Recursos Hídricos (SRH),
Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace) e Ministério Público
resultou na emissão de autos de infração ambiental, termos de embargo e
notificações relacionados a uso irregular de barragens, loteamentos e
abatedouros sem licença. Apesar das punições, multas e processos
administrativos, o represamento continua.
Durante a
operação, também foram identificados pontos de descarte irregular de
agrotóxicos, oriundos de hortas que existem ao longo do trajeto do
riacho Ipuçaba, e esgotos residenciais construídos junto ao leito. Uma
moradora de Ipu inclusive alertou a equipe do O POVO sobre a não
indicação das águas da bica para banho e consumo. A Cogerh confirmou em
relatório a presença de resíduos.
O promotor de Justiça da
comarca de Ipu, José Ribeiro dos Santos Filho, disse que a Semace
agendou nova vistoria ainda para este semestre, mas, até agora, nada foi
feito. Ele afirma ainda que, no último dia 29 de outubro, fez uma nova
requisição ao órgão, relacionada à construção de uma estrada que estaria
comprometendo as margens do riacho. Se nenhuma resposta for dada nos
próximos dias, o promotor garantiu que vai encaminhar solicitação dos
dois casos à Secretaria Estadual do Meio Ambiente. Inclusive,
solicitando intervenção do Ibama e do Instituto Chico Mendes.
Saiba mais
A
APA em que está a Bica do Ipu abrange uma região de 3.484,66 hectares.
Entre as atividades proibidas, de acordo com o decreto que estabeleceu
a APA, está a implantação de ações potencialmente degradadoras e a
intervenção em nascentes e encostas.
Não é de hoje que a
região da bica é palco para polêmicas. No início de 2012, deveria ser
inaugurado o complexo turístico do Parque da Bica, com orçamento de
quase R$ 27 milhões oriundos do Programa de Desenvolvimento do Turismo
no Nordeste (Prodetur). Estavam previstos jardim botânico, biblioteca
panorâmica, teleférico, lago com pedalinhos, quadras esportivas,
anfiteatros, área para camping, hotel, elevador panorâmico, rampa para
voo livre e restaurante.
Ao final do prazo estabelecido,
apenas o restaurante foi entregue. O projeto foi abortado. As
entidades financiadoras bloquearam o repasse dos recursos e as obras
foram totalmente paralisadas.
O prefeito de Ipu, Sérgio
Rufino, diz que novo projeto está sendo feito para o Parque da Bica —
em parceria com o Governo do Estado e Secretaria do Turismo. As obras
devem começar no primeiro semestre de 2016 e vai contar com recursos de
R$ 3 milhões.
130 metros é a altura da queda d’água em Ipu
Fonte: Jornal O Povo