A
aproximação da quadra chuvosa de 2019 (fevereiro a maio) traz
preocupação sobre a situação estrutural de açudes no Ceará. O Relatório
de Segurança de Barragens (RSB), divulgado pela Agência Nacional de
Águas (ANA) em novembro de 2018, classifica, no Ceará, oito em situação
de risco considerado alto, e 19 em médio. No Estado, a ANA tem
cadastrados 188 reservatórios.
O relatório da ANA foi elaborado com base na Política Nacional de
Segurança de Barragens (PNSB). No Ceará, os que apresentam classificação
em alto risco são Ayres de Souza (Sobral); Forquilha (cidade de mesmo
nome); Frios (Umirim); Lima Campos (Icó); Paulo Sarasate (Varjota); Pompeo Sobrinho (Choró); Roberto Costa - Trussu (Iguatu); e Várzea do Boi (Tauá).
Outros 19 apresentaram risco médio, e 80 não receberam nenhuma
classificação. Em 2016, o Ceará tinha 10 de 25 barragens com estruturas
comprometidas no Brasil, segundo relatório da ANA apresentado em outubro
de 2017.
No relatório de novembro de 2018, não havia referência sobre as outras
barragens, que foram citadas no documento anterior: Poço Verde
(Itapipoca), Jaburu (Ubajara), Tijuquinha (Baturité), Cupim
(Independência) e Pau Preto (Potengi).
Na região Centro-Sul do Ceará, dois açudes apresentam erosões - buracos,
fissuras nas paredes e presença de vegetação: Lima Campos, em Icó; e
Trussu, em Iguatu. Esses problemas trazem preocupação para os moradores,
que aumenta com o desastre recente ocorrido em Brumadinho, Minas
Gerais. A situação do Lima Campos é a mais grave. Há um enorme buraco e
mais outros de dimensão menor nas duas faces da parede. O problema se
agrava desde 2016.
Placas de cimento estão cedendo e há rachaduras que se estendem por mais
de cinco metros. Um buraco com cerca de dois metros de profundidade,
cinco metros de comprimento e quase um metro de largura, na ombreira
direita da parede, próximo à galeria, desperta a atenção de visitantes e
traz medo para os moradores da vila, que temem rompimento em caso de
cheia do reservatório.
"Esse buraco vem aumentando a cada ano, mesmo com pouca chuva. A nossa
sorte é que ainda não choveu para encher o açude", disse o agricultor e
morador da Vila Lima Campos, há 30 anos, José Ferreira da Silva. Ele
entrou na cratera para demonstrar a sua profundidade e ficou assustado
com a extensão. "Existe sim o risco de arrombar a ponta dessa parede.
"Com certeza, traz medo para todos".
O professor de Geotecnia do Departamento de Engenharia Hidráulica e
Ambiental da Universidade Federal do Ceará (UFC), Silvrano Dantas,
observou que há necessidade de se fazer um estudo sobre a situação dos
açudes no Ceará. "Se os açudes apresentam rachaduras, erosões, em
condições pouco severas como as nossas, é um indicativo de problema, e
por isso necessitam de cuidado, análise de risco e de obras de
conservação, recuperação", pontuou.
Conserto
Silvrano Dantas defende a rápida ação do governo para estudo e definição
de medidas corretivas. "Alguns são problemas conhecidos há muito tempo,
mas que são negligenciados. A análise sobre as condições das barragens
exige tempo e recursos". O professor observou que esse período em que
muitos açudes estão secos ou com nível baixo seria oportuno para obras
de conservação e conserto dos problemas estruturais.
O professor da UFC diferenciou as barragens de contenção de rejeitos de
mineração em Minas Gerais dos açudes edificados no Ceará. "Aquelas
barragens são aterros controlados, que recebem rejeitos e vão se
ampliando, e os nossos açudes apresentam maior controle e maior
segurança, desde que o projeto tenha sido executado corretamente".
Em fevereiro de 2018, o Diário do Nordeste publicou reportagem
intitulada 'Quatro barragens estão com problemas estruturais graves' que
mostrava que os reservatórios federais no Ceará, administrados pelo
Dnocs, encontravam-se no nível de perigo classificado como 'alerta' - de
magnitude média; e outros 15 em 'atenção'.
Na época, a preocupação recaía com os reservatórios Patu (Senador
Pompeu); Quixeramobim, na cidade de mesmo nome; Várzea do Boi (Tauá); e
Açude Frios (Umirim) que estão em nível de 'alerta'.
Cogerh
Por meio de nota, a Cogerh informou o seguinte: "As barragens Lima
Campos e Trussu são de propriedade do Dnocs, e ao órgão caberia realizar
as manutenções. Contudo, a Cogerh realiza, no início de fevereiro,
licitação para contrato que garantirá a realização de serviços em
diversos reservatórios das 12 bacias hidrográficas do Estado. Os açudes
Lima Campos e Trussu poderão ser contemplados com esse processo
licitatório, desde que haja anuência do Dnocs".
A assessoria de imprensa do Dnocs esclareceu que a Direção Geral
anualmente encaminha relatório sobre as condições estruturais e de
segurança das barragens federais para a ANA e para o Ministério da
Integração Nacional - agora para o Ministério do Desenvolvimento
Regional, mas não recebe os recursos devidos para a realização das
obras.
Fonte: Diário do Nordeste