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Cearense morto em desabamento no Rio de Janeiro havia acabado de realizar o sonho da casa própria

Raimundo Nonato, 40 anos, foi encontrado sem vida junto ao corpo do seu enteado de 7 anos nos escombros do desabamento de dois prédios na favela da Muzema, no Rio de Janeiro, na última sexta-feira (12) 
 
Raimundo Nonato tinha 40 anos e havia vendido sua van para trabalhar como motoristas de aplicativo particular - Arquivo pessoa.
Sorriso sempre no rosto, gentil, carinhoso e com muito amor para dar a todos mesmo frente às dificuldades da vida. É assim que a família do motorista de aplicativos Raimundo Nonato do Nascimento, 40, cearense morto no desabamento de dois prédios na favela da Muzema, no Rio de Janeiro, na última sexta-feira (12). Outro cearense, do município de Ipu,perdeu sua ex-esposa e o filho de dez anos na tragédia. 

Natural de Guaraciaba do Norte, interior do Ceará, ele morava em apartamento próprio em um dos prédios que caiu junto com a a esposa, Paloma Paes Leme, o filho Rafael, 4 anos e outros três enteados: Lauane, Isaac e Pedro Lucas. Este último, de 7 anos, foi achado sem vida junto ao corpo de Raimundo. Os outros enteados seguem desaparecidos, enquanto Rafael e Paloma foram resgatados com vida. 

Em entrevista ao Sistema Verdes Mares, Ana Paula Pontes, sobrinha de Raimundo, criada lado a lado dele, relata os momentos de agonia vividos pelos familiares de Guaraciaba, que chegaram a ter a notícia de que estava tudo bem com ele. “No dia do desabamento a gente recebeu a notícia e nossos parentes no Rio foram atrás de saber se estava tudo bem. Depois do meio-dia (de sexta-feira) ficamos sabendo que ele era uma das vítimas. De repente chegou a notícia de que ele estava bem”, conta. 
"Foi, e ainda é, um momento de dor, muito difícil, principalmente pra gente que tá longe"
Mas a alegria não durou por muito tempo, segundo conta Ana Paula. As informações estavam desencontradas. Havia outro Raimundo Nonato entre os resgatados com vida, mas a família só descobriu depois que o sobrenome não era o mesmo. “Meu primo foi então último lugar possível, o Instituto Médico Legal (IML). Chegando lá ele passou os dados e nós confirmamos que ele tinha mesmo morrido. Foi aquele desespero. Foi, e ainda é, um momento de dor, muito difícil, principalmente pra gente que tá longe”, conta a cearense. 

Confirmada a morte, os esforços dos parentes se voltaram para tentar trazer o corpo de Raimundo para se enterrado em sua terra natal, para que familiares e amigos próximos pudessem dizer o último adeus. Mas, após impasses familiares, o corpo terá de ser enterrado no Rio de Janeiro, a pedido da esposa, Paloma. 

“Já estava tudo pronto pro corpo vir pro Ceará. A gente já tinha deixado tudo resolvido com a funerária e já tinha até a passagem do traslado comprada pra hoje, mas a Paloma, que antes havia autorizado, mudou de ideia. Minha vó (mãe de Raimundo Nonato), estava na maior expectativa. A gente fica muito triste, mas tudo tem um motivo, né?”, avalia Ana Paula.

O sonho que desmoronou junto com o prédio 
Ao completar 18 anos, Raimundo Nonato foi “ganhar a vida” no Rio de Janeiro. Sonhador e batalhador, ele trabalhou durante quase toda a sua vida como motorista de van nas comunidades cariocas e viveu de aluguel. No ano passado, com a intensa fiscalização da Prefeitura em cima dos veículos, que já eram proibidos de levar passageiros, Nonato precisou se virar. É o que relembra sua sobrinha, Ana Paula Pontes.
"Ele tava com essa realização da casa própria, né? Ele sempre sonhou em ter isso. E aí o sonho dele desmoronou junto com o apartamento"
Foi aí que ele vendeu a van e deu entrada em um apartamento próprio, e ainda conseguiu comprar um carro para trabalhar como motorista de aplicativo particular. Há cerca de quatro meses atrás, uma ligação para Guaraciaba fez a felicidade da família dele. “Ele ligou pra minha vó contando ‘mamãe, saí do aluguel. Comprei minha casinha e vou trabalhar pra pagar’. Ele tava com essa realização da casa própria, né? Ele sempre sonhou em ter isso. E aí o sonho dele desmoronou junto com o apartamento”, desabafa. 

tragédia em muzema tragédia em muzema
Na foto, Raimundo e sua mãe, na última vez que ela havia ido visitá-lo no Rio de Janeiro Arquivo pessoal
De família grande, Raimundo contava com apoio de vários familiares que também moravam no Rio de Janeiro. “Ele nunca esqueceu da gente. E a gente vai sempre lembrar dele com felicidade, amor e carinho. Acho que o mais bonito era ver o amor que ele tinha pela minha avó, a mãe de criação dele. Ele vivia pela família e pelo trabalho”, relata Ana Paula.




Fonte: Diário do Nordeste