Querem silenciar nossas crianças. O desabafo é de Jakeline Barbosa, titular reeleita do Conselho Tutelar da Criança e do Adolescente de Sobral, diante do aumento do número de abuso sexual contra crianças nas escolas do município. O pior: até as autoridades tentam desacreditar a versão da vítima. Ela cobra participação mais efetiva da Prefeitura de Sobral.
Tratamos aqui dois casos dos mais
rumoroso e recentes de estupro contra vulneráveis praticados dentro de
escola e creche em Sobral.
ESTUPRO NO SUMARÉ
A dona de casa Maria Isabel Teles da
Silva (62) enche os olhos de lágrimas, ao relatar o drama vivido por ela
e pelo neto, de 10 anos de idade, que ela cria como filho. O menino,
segundo a avó, não tem controle sobre o esfíncter anal, o que faz com
que, vez ou outra, ele se suje de fezes involuntariamente. O problema
foi detectado em julho deste ano, quando a criança iniciou suas férias
escolares. “Eu perguntei para ele o que estava acontecendo. E fui
direta, pois sempre estranhei a convivência dele com o professor. Ele
agradava demais o menino, com dinheiro, roupa e futebol. Eu já observava
uma certa relutância dele com o professor”, disse a avó.
Na conversa com o menino, dona Isabel
ouviu dele que o professor o abusava fisicamente depois das aulas. O
crime se deu na escola José Parente Prado de Ensino Fundamental,
localizada no Sumaré, onde a família mora. Segundo a avó, “o professor
fechava a porta da sala, dizendo que ia ensinar meu neto a ler, mas
tampava a boca do menino com as mãos, e fazia sexo com ele. Esse
professor ameaçava meu neto de tomar a guarda dele, que é minha. Naquele
instante, eu tomei um choque. Não tinha forças nem para ir mais à
igreja. Esse professor jurava de matar ele, amostrava um revólver e uma
carteira, dizendo que era do Conselho Tutelar. Hoje, a criança faz cocô
sem se sentir”, lamenta.
Isabel Teles, avó da vítima, mora no Sumaré FOTO: Luciano Cléver
O drama foi divido com alguns familiares
de dona Isabel, que buscaram o apoio do Centro de Referência de
Assistência Social (CRAS). “A diretora da escola também acompanhou a
visita da assistente social, que ouviu toda a história do meu neto. A
diretora disse que eu poderia contar com ela, que estava do meu lado, e
só. Não veio mais aqui. No IML, o exame mostrou que havia lesão no
local; de lá, fomos para a delegacia, na companhia de um conselheiro
tutelar. O menino repetiu tudo para a delegada, identificando, por foto
mostrada a ele, o tipo de arma e o brasão da carteira que o professor
mostrava durante os abusos. Meu neto confirmou que tinha medo de morrer,
por isso, ficou calado”, chora, ao explicar o que foi detalhado no
Boletim de Ocorrência.
O caso está sendo investigado pela
Polícia, mas o trauma mudou a rotina da criança. “Eu troquei ele de
escola; mas hoje, meu filho está doente. É um menino calado, triste,
pelos cantos, sem saúde. Tem até medo de comer. O que me deixa triste é
que a psicóloga do posto de saúde do bairro só veio aqui uma vez.
Ninguém da Secretaria de Educação ou da escola veio aqui. Estou
aguardando que ele faça exames em Fortaleza, e talvez uma cirurgia”,
adianta a avó. Sobre o professor, dona Isabel disse que ele estaria
dando aulas em outro município.
FAKE NEWS DO SECRETÁRIO
O titular da Secretaria da Educação de
Sobral, Herbert Lima, foi às redes sociais tentar negar o caso do
estupro sofrido pelo garoto do Sumaré. Segundo ele, é fake news, pois o
laudo teria dado negativo para violência sexual. Omitiu que o laudo foi
realizado mais de um mês depois do ocorrido, o que teria prejudicado a
precisão do exame. Ao mesmo tempo, informa que o servidor foi afastado.
Se era inocente, por que foi afastado?
ABUSO NA CRECHE
A situação de abuso descrita por dona
Isabel da Silva, se junta a outra denúncia, depois que outra avó, Maria
da Glória Bento do Carmo, moradora do bairro Terrenos Novos, tornou
público o abuso sofrido pela neta, de três anos de idade, dentro do
Centro de Educação Infantil Terezinha de Jesus Ponte Aragão, localizado
no Grajaú. O abuso, segundo a avó da menina, ocorreu na última
sexta-feira (18). “Ela começou a se queixar de dor na região da virilha.
Eu achei estranho e comecei a fazer perguntas a ela. Que disse que o
bibiu dela estava dodói. Ela disse que foi um homem grande do colégio,
que tocou nela”, relatou a avó, indignada.
A ronda da Uniseg se estenderá, nas escolas, por tempo indeterminado, como na creche onde se deu o crime (Foto: Davi Rodrigues).
A família buscou apoio da Delegacia
Regional de Sobral, sendo a criança ouvida e encaminhada ao IML para
exame de corpo de delito. De acordo com o laudo prévio, descrito no
B.O., a criança apresentou lesão nas partes íntimas. O documento foi
encaminhado à Delegacia da Mulher, que já investiga o caso de estupro.
“A Polícia já está ouviu os funcionários da creche; mas o que me deixou
mais triste, foi a diretora ter pedido para não procurar a imprensa,
para não prejudicar a escola, diz dona Glória.
Fabrícia Bento do Carmo, mãe da criança abusada, cobra justiça.
Em nota, a Secretaria de Educação de Sobral informou que, “a direção do Centro de Educação Infantil recebeu a denúncia no dia (19), e comunicou ao Conselho Tutelar. Também comunicou o “suposto ilícito” à Delegacia Municipal da Polícia Civil, para que fossem adotadas as devidas providências”, diz a nota e pontua. “A direção da escola e a Secretaria de Educação estão à inteira disposição para prestar os esclarecimentos necessários ao inquérito”.
Segundo o professor João Paulo Santos
(38), que tem um filho de 2 anos, na mesma creche, “a gente, como pai,
fica muito preocupado. Até agora, a escola não deu nenhuma declaração
pública sobre o assunto, e o que está sendo apurado. Acho que falta uma
resposta mais firme da própria Secretaria de Educação, além da nota que
foi divulgada. Ainda aguardo mais informações sobre esse caso; afinal de
contas, meu filho estuda aqui, e isso me preocupa”, revela.
A reportagem do Sobral Post esteve na
creche para entrevistar a diretora Lucilene de Lima, mas foi mal
recebida. Logo que a equipe se apresentou, ela se recusou a dar qualquer
esclarecimento e solicitou aos policiais, que estavam
extraordinariamente de guarda na escola para que nos conduzisse para
fora do estabelecimento, como se os criminosos fossem os jornalistas e
não aquele que abusou da criança, que ainda permaneciam de serviço.
Em reunião com pais de alunos, cujos
áudios o Sobral Post teve acesso, a diretora afirmou categoricamente
que, no dia do crime, as crianças não tinham feito atividades fora da
escola, levantando suspeita sobre a versão da criança que disse ter sido
abusada no parquinho. “À tarde, nós não levamos as crianças ao parque,
porque é muito quente”, disse. No entanto, a agenda da criança, assinada
pela professora Solange informa que “brincamos bastante no parque”.
“Brincamos bastante no parque”.
Anotação na agenda da criança desmente afirmação da diretora Lucilene de
Lima de que, naquele dia, as crianças não tinham saído da sala. A
criança, cuja versão a diretora tenta negar, disse que foi abusada no
parquinho.
Até o fechamento da edição, não tivemos
notícia de que a diretora tivesse afastado os três suspeitos (um
vigilante, um zelador, e um rapaz da secretaria).
A conselheira tutelar Jakeline Barbosa
afirma que, neste ano, houve aumento de denúncias de abuso de crianças
dentro de escolas em Sobral. Ela não soube precisar o número desses
casos, por não ter acesso, no momento, aos dados, mas que, “todos os
casos têm sido acompanhados pelo Conselho e encaminhados à Justiça. No
caso da garota de três anos, todos os procedimentos cabíveis ao Conselho
foram tomados. A partir de agora, é com a Polícia e a Justiça. O
Conselho também já fez o encaminhamento ao Ministério Público para que
sejam tomadas as providências, de acordo com as investigações”, explica a
conselheira.
Jakeline Barbosa cobra parceria efetiva da Prefeitura de Sobral com os órgãos de proteção às crianças FOTO: Luciano Cléver
Ainda, segundo a Jakeline, “Eu acho que a
própria Secretaria de Educação precisa chegar junto dos órgãos de
defesa de direitos, e apurar os casos, para que esses violadores sejam
punidos. É isso que a gente espera, por parte da Secretaria; e acho que é
isso que ainda não está acontecendo. Acho que deve haver uma união de
todos os órgãos da administração pública de Sobral, inclusive, com o
Conselho Tutelar, para que possamos fazer um trabalho mais efetivo”,
reflete a conselheira, e finaliza. “O que acontece é, que, em todas as
instâncias, querem silenciar nossas crianças. A criança tem sempre sua
palavra em dúvida, quando, de fato, as escolas deveriam abraçar a
criança, e entender que aconteceu algo. Na escola, pelo menos, um
processo administrativo tem que ser aberto, que pode correr
paralelamente às investigações”, explica.
Nessa quarta-feira (23), o Grupo de
Segurança Escolar da Unidade Integrada de Segurança de Sobral (Uniseg)
passou a fazer rondas, com equipes de policiais militares, em frente das
escolas do município.
CURIOSIDADE
Na campanha eleitoral, o então candidato
Ivo Gomes prometia “mais cuidado para as crianças e mais tranquilidade
para seus pais e suas mães”. Uma das creches que aparece como cenário da
propaganda eleitoral foi local do abuso contra a bebê.
Veja o vídeo:
Fonte: Sobral 24 Horas