Sentença foi proferida pela Justiça Estadual há um ano, mas o policial
recorreu da decisão em liberdade. Neste período, ele foi nomeado para o
segundo cargo mais alto da Supesp e agraciado com a Medalha General
Assis Bezerra
Condenado por um homicídio, o inspetor da Polícia
Rodoviária Federal (PRF), Alisson Francelino Primo, foi nomeado como
diretor de Estratégia de Segurança Pública, o segundo cargo mais alto da
hierarquia da Superintendência de Pesquisa e Estratégia de Segurança
Pública do Ceará (Supesp), órgão vinculado à Secretaria da Segurança
Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS).
A nomeação foi assinada pelo titular da SSPDS, André Costa, e pelo
superintendente da Supesp, o também policial rodoviário federal Aloísio
Lira, no dia 30 de outubro do ano passado; e foi publicada no Diário
Oficial do Estado (DOE) de 6 de novembro seguinte. Conforme informações
do Portal da Transparência, o salário bruto pago pelo Governo do Estado a
Alisson Primo, referente ao trabalho desempenhado em dezembro do ano
passado, foi de R$ 8.979,31.
No dia 30 de janeiro de 2019, o agente de segurança foi condenado
pela Justiça Estadual a 14 anos de prisão, pelo assassinato do
comerciante Francisco Benedito Barbosa Gama, o 'Bené', ocorrido em 25 de
julho de 2010, na zona rural de Paramoti. A defesa recorreu, e o réu
conseguiu aguardar o julgamento do recurso em liberdade.
A irmã de 'Bené', Célia Gama, disse estar "indignada" com a nomeação
do acusado de matar o seu irmão para um cargo de direção na Supesp.
"Como é que o cara tira a vida de um cidadão e hoje tem um cargo
desses?", questiona. "A gente corre, corre, e ele (réu) sempre está
ganhando. A impunidade, não dá para entender. É muito desgastante. O que
nós podemos fazer"?
A Polícia Rodoviária Federal (PRF) informou que "à época (do
homicídio), foi instaurado, pela Corregedoria-Geral da PRF, em Brasília,
um processo administrativo para apurar o caso, o qual, posteriormente,
restou arquivado, em razão de os fatos atribuídos não estarem vinculados
à atividade funcional do Servidor". Antes do julgamento, Alisson ficou
preso apenas por 26 dias e voltou a atuar na PRF, até ser cedido à
SSPDS.
Processo
O Ministério Público do Ceará (MPCE) denunciou Alisson Primo por
homicídio qualificado contra 'Bené' e tentativa de homicídio contra um
amigo do comerciante, que o acompanhava em uma moto. Conforme o MPCE, a
dupla chegava à propriedade de 'Bené' e foi surpreendida a tiros.
O policial estava em um carro, com a namorada. Durante o processo, a
defesa alegou que ele pensava que seria assaltado pela dupla e agiu para
evitar a ação criminosa. Procurado para comentar o caso, o advogado
Túlio Magno Ribeiro ficou de retornar a ligação, o que não aconteceu. As
chamadas seguintes não foram atendidas.
'Bené' foi alvejado e tentou correr para um matagal, mas sofreu novos
tiros pelas costas. O homem, que tinha 37 anos na época, foi levado a
uma unidade de saúde, mas não resistiu aos ferimentos.
O Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE) esclareceu que, após a
condenação, a defesa do policial rodoviário federal ingressou com um
recurso de apelação, pedindo um novo júri popular, em Fortaleza, e pediu
a redução da pena para 12 anos de prisão. O Ministério Público se
manifestou contrário aos pedidos da defesa. O recurso aguarda julgamento
da 2ª Câmara Criminal.
Além de nomear Alisson Francelino Primo como diretor da Supesp, a
SSPDS concedeu a Medalha General Assis Bezerra ao policial, no ano
passado. Outro ponto controverso foi a nomeação também para a Supesp de
Túlio Magno, advogado de Alisson Primo no processo de homicídio. Ele foi
nomeado para o cargo de assessor, na Diretoria de Pesquisa e Avaliação
de Políticas de Segurança Pública. Segundo o Portal da Transparência, o
salário bruto de Túlio Magno, referente a dezembro último, foi de R$
4.900,83.
Justificativa
A Secretaria da Segurança informou que Alisson foi nomeado como
diretor da Supesp por seu conhecimento e experiência profissional. Disse
ainda que o servidor foi um dos criadores do Sistema Policial
Indicativo de Abordagem (Spia), da Teoria da Mobilidade do Crime e de
diversas iniciativas voltadas para tecnologia que vem sendo desenvolvida
no Estado do Ceará, em parceria com a SSPDS, PRF e também
universidades.
Sobre a Medalha General Assis Bezerra, a Pasta esclareceu que o
policial foi agraciado por ter atuado desde 2016 na gestão estratégica
na Superintendência da PRF do Ceará e ajudou a desenvolver o projeto
Segurança Pública Integrada (SPI), que tem destaque nacional. A SSPDS
defendeu a nomeação, mesmo o policial tendo sido condenado em primeira
instância. "Em relação ao mencionado processo, este se encontra em grau
de recurso". A Pasta disse ainda que, "a rigor do que recomenda o
princípio da presunção de não culpabilidade, ou seja, só se pode
considerá-lo culpado e condenado após o trânsito em julgado da decisão".
Com relação à indicação do advogado Túlio Magno, a SSPDS informou que
o servidor é advogado com currículo extenso e "apresenta a necessária
experiência jurídica na área em que exerce sua função atualmente".
Fonte: Diário do Nordeste