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Polícia pede prisão preventiva de suspeito de ser o verdadeiro 'maníaco da moto' em Fortaleza

Borracheiro acusado de praticar oito estupros ficou preso injustamente durante cerca de cinco anos. O verdadeiro criminoso, segundo a Justiça, não representa mais uma ameaça à sociedade
 
Legenda: O maníaco utilizada uma moto vermelha durante a abordagem às vítimas nas ruas de Fortaleza
Foto: Reprodução/TVM
Após um borracheiro ficar cinco anos na cadeia por engano, a Polícia Civil do Ceará solicitou a prisão preventiva do homem apontado como verdadeiro "maníaco da moto", acusado de estuprar pelo menos oito mulheres em Fortaleza, mas teve esse pedido foi negado neste mês.

Na abordagem às vítimas, o maníaco utilizava uma motocicleta de cor vermelha e ameaçava as mulheres com uma faca, cometendo estupros nas ruas da capital em 2014. O nome do verdadeiro maníaco não foi divulgado.

Antônio Cláudio, que era inocente, ficou preso enquanto o verdadeiro "maníaco da moto" foi solto após cumprir somente um ano e dois meses de prisão. Agora, detendo maior quantidade provas técnicas, a polícia pediu novamente a prisão do criminoso, porém neste mês a Justiça negou o pedido. 

"A gente amarrou tudo para que ele [verdadeiro maníaco] fosse preso e mandamos para o judiciário pedindo a prisão preventiva. Isso em novembro [de 2019]. Agora, recebemos a decisão do judiciário negando a prisão dele", afirma a inspetora Daniele de Castro, que acompanha o caso desde o início. 
Segundo ela, o judiciário alega que o criminoso não oferece risco à sociedade, tendo em vista que o crime ocorreu há muito tempo. E "mais uma vez erra" diante do mesmo caso.

"Ele é um maníaco. Ele atacou várias mulheres e continua solto. E a gente, a polícia, investigou e provou pro judiciário que ele é culpado. Tem uma vítima que é incisiva no reconhecimento. Ela fica nervosa só de olhar uma foto dele", critica a inspetora, revelando um sentimento de revolta e frustração diante da decisão judicial. "Foi jogado um balde de água fria em tudo o que a gente trabalhou para provar que aquele rapaz é o verdadeiro culpado". 

Diário do Nordeste solicitou o posicionamento da Justiça em relação ao caso, mas ainda aguarda resposta.

Borracheiro inocente ficou preso por quase cinco anos

Confundido com o homem conhecido como "maníaco da moto", Antônio Cláudio Barbosa de Castro foi condenado a nove anos de reclusão e ficou preso por quase cinco anos pelo estupro de oito mulheres, crimes que não cometeu.

Com a conclusão do julgamento da revisão criminal proposta pela Defensoria Pública do Ceará e pelo Innocence Project (IP) Brasil, associação sem fins lucrativos que busca reverter condenações de inocentes, o borracheiro voltou à liberdade em 30 de julho de 2019

Na ocasião, familiares aguardavam emocionados e aliviados a saída do rapaz do lado de fora do Centro de Execução Penal e Integração Social Vasco Damasceno Weyne (Cepis), conhecido como CPPL V, em Itaitinga, na Região Metropolitana de Fortaleza. 

Antônio Cláudio era dono de uma borracharia no Mondubim e não tinha passagens pela Polícia

"Muita coisa que a gente passou junto, minha família, meus irmãos, eu não tenho nem palavras, eu não estou nem acreditando. Pra ser sincero, muita fé eu tive. É muito difícil porque eu não consigo imaginar como pessoas que se consideram seres humanos colocam uma pessoa inocente dentro de um lugar desse aqui onde passei todo tipo de coisa horrível", afirmou Antônio Cláudio, logo ao sair do presídio.

Antônio Cláudio estava preso desde agosto de 2014, ficando quatro anos e 11 meses encarcerado. Antes do erro dos sistemas policial e judiciário cearenses, reparado no dia 29 de julho de 2019 quando a Justiça inocentou o homem em novo julgamento, ele era dono de uma borracharia no Bairro Mondubim, em Fortaleza, e não tinha passagens pela polícia.

O caso que levou à reviravolta na vida de Antônio Carlos ficou conhecido como o "maníaco da moto". Um criminoso que utilizava uma motocicleta de cor vermelha para abordar as vítimas, ameaçando as mulheres com uma faca e cometendo os estupros nas ruas de Fortaleza. O verdadeiro culpado nunca foi identificado.

Mãe, pai, irmãos e outros familiares foram à Itaitinga receber Antônio Cláudio na estreia da nova etapa de vida do borracheiro. Sem ter realizado visitas ao filho durante o período de detenção, o pai, e também borracheiro, José Joaquim de Castro, falou sobre o sentimento de reencontrar o filho depois de quase cinco anos.

“Sou operado do coração, mas sou forte. Esperei muito tempo, mas Deus é maior. Meus amigos tão tudo esperando a chegada do meu filho lá em casa”, disse.

Emoção e alegria compartilhada com a mãe de Antônio Cláudio, a dona de casa Antônia Barbosa de Castro. Sobre o momento da espera, ela enfatizou que tudo o que queria era ver o filho e "dar um abraço bem grande nele”.

Evidências do erro
A liberdade veio para Antônio Carlos após uma ex-namorada do borracheiro procurar ajuda da Defensoria Pública do Ceará e dos advogados do Innocence Project Brasil, iniciativa de três profissionais que atuam na defesa de condenados erroneamente pelo Poder Judiciário.

Entre as evidências apontadas pela defesa no novo julgamento, os advogados alegam que o autor do crime tem cerca de 1,80 metro, com base em vídeos que registram o homem cometendo os atos. A altura de Antônio Cláudio, condenado por engano, é 1,59 metro.

A advogada Flávia Rahal, integrande do projeto, afirma que "a única coisa que sustentou a condenação foi o reconhecimento feito pela vítima" – não houve exame de DNA, por exemplo. O reconhecimento foi feito por uma criança de 11 anos, vítima de estupro. Conforme Rahal, a criança se equivocou ao se convencer de que o borracheiro foi o autor do crime.

"Não estamos falando de um reconhecimento feito por má fé. Ela foi vítima de abuso, deve ser uma coisa que deixa marcas muito doloridas. E quando ela viu a foto dele [Antônio], se convenceu que ele era a pessoa que a atacou. No momento em que ela se convence – tem uma tese de direito com psicologia que fala da falta de memória – ela interioriza que foi ele", ponderou a advogada.

Além disso, a defesa afirmou ter provas documentais que de que Antônio Cláudio não possuía uma motocicleta de cor vermelha no período em que os crimes foram cometidos.



Fonte: Diário do Nordeste