O religioso do Quênia afirmou que os seus seguidores veriam Jesus Cristo depois do jejum.
Desde
a Reforma Protestante engendrada por Martinho Lutero em 1517, os
cristãos — agora divididos entre católicos e “protestantes” —
desenvolveram meios diversos para interpretar as Escrituras. Se no mundo
católico o fiel tem o Magistério da Igreja para interpretar a Bíblia,
entre os protestantes vale a “livre interpretação” baseada tão somente
na “consciência” do fiel. Daí que não surpreende haver tantas
“denominações” e correntes doutrinárias divergentes entre si. O exemplo
mais recente veio da África, onde um pastor levou seus seguidores à
morte por inanição depois de um longo jejum com o objetivo de “ver
Jesus”.
A
tragédia aconteceu no Quênia, país do leste africano, onde atuava Paul
Mackenzie Nthenge, um ex-taxista que, depois de “ouvir o chamado do
Senhor” decidiu tornar-se “pastor” em 2003. Desde 2017, Paul já foi
parar na cadeia duas vezes em função do seu extremismo. Desta vez, no
entanto, o pregador foi longe demais; a polícia local encontrou até o
momento 89 corpos de seguidores do pregador que sucumbiram a um jejum
mortal, segundo Japhet Koome, chefe da polícia do Quênia.
Num
relatório policial datado de 14 de abril consta o nome de Mackenzie
Nthenge como o líder da seita religiosa. A polícia recebeu inúmeras
denúncias sobre “cidadãos mortos de fome sob o pretexto de conhecer
Jesus depois de terem passado por uma lavagem cerebral”.
Segundo
a agência de notícias AFP, o pastor africano entregou-se à polícia na
noite de 14 de abril. O nome da denominação religiosa de Paul é “Igreja
Internacional das Boas Novas”, entidade que conta com mais de três mil
membros, mil deles só na cidade costeira de Malindi, onde está instalada
a sede da “igreja”.
‘Fim dos tempos”
O
mote da pregação de Paul Mackenzie Nthenge era o que ele chamava de
“mensagem dos últimos tempos”, um conjunto de ensinamentos e profecias
sobre o fim dos tempos que integra uma corrente teológica chamada de
Escatologia. Paul afirmava “levar o Evangelho de Nosso Senhor Jesus
Cristo livre do engano e do intelecto do homem”. No seu canal no
YouTube, o “pastor” alertava os seus fiéis sobre os riscos da danação
eterna àqueles que usassem perucas ou fizessem transações financeiras
eletrônicas, isto é, sem dinheiro em espécie. Recentemente, Paul já
havia sido preso novamente, desta vez por promover a não escolarização
das crianças, porque, segundo ele, era uma prática não reconhecida pela
Bíblia.
Depois
de outros problemas com a polícia local, sempre em função dos seus
sermões excêntricos, Paul foi acusado de convencer os seus seguidores a
“jejuar até a morte para se encontrar com o seu Criador”. Ainda segundo o
chefe da polícia do Quênia, Paul foi solto graças à fiança de 100 mil
xelins quenianos (o equivalente a 3,7 mil reais). Em entrevista ao
periódico The Nation, o “pastor” disse estar “chocado com as acusações
contra ele”.
Fonte: Revista Oeste