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Outro mosquito potencial vetor da dengue tem 'rápida expansão' no CE e preocupa Secretaria da Saúde; veja cidades

Espécie foi identificada no Estado há 20 anos, mas ocupação da zona rural pode estar relacionada ao aumento dos focos 


Imagem aproximada do mosquito Aedes albopictus
Legenda: Mosquito de origem asiática tem uma linha contínua no tórax - Foto: Susan Ellis/Bugwood.org/Creative Commons.

 

O Aedes aegypti é um mosquito de alerta para a saúde pública no Brasil devido à capacidade de transmitir doenças como dengue, zika e chikungunya. Porém, um “primo” dele vem despertando a atenção de autoridades de monitoramento no Ceará porque, em 20 anos, teve expansão para mais de 120 cidades. Em 62 delas, o outro possível vetor de arboviroses já chegou às áreas urbanas, onde há maior concentração de pessoas.

Segundo a Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), o Aedes albopictus é um mosquito de hábitos silvestres, "mais agressivo e eclético quanto à alimentação", sendo o principal transmissor de dengue na Ásia e na Europa. No Brasil, essa transmissão ainda não foi comprovada e a maior relevância ainda é do Aedes aegypti.

Um estudo da Universidade Estadual do Ceará (Uece) identificou os primeiros espécimes do Aedes albopictus no Estado em 2005. À época, eles foram localizados em um quintal no bairro Montese, em Fortaleza. Os pesquisadores conjecturaram que a chegada ao Ceará “tenha sido favorecida pelo constante e intenso tráfego de pessoas e mercadorias, provenientes das mais diversas regiões do País”.

“Aquele momento despertou para a presença dele, mas, na verdade, é muito provável que ele já estivesse aqui. Foi o primeiro registro, mas logo em seguida, um ano depois, a gente viu que ele já estava em vários municípios”, lembra o orientador da Célula de Vigilância Entomológica e de Controle de Vetores (Cevet) da Sesa, Luiz Osvaldo da Silva.

Nas duas décadas seguintes, apesar de conhecido, ele ficou à margem da vigilância justamente por ser detectado mais comumente nas áreas rurais. Contudo, o último boletim entomológico da Secretaria, consolidando as informações de 2024 e publicado neste mês, revelou que o Aedes albopictus foi listado nas áreas urbanas de 62 municípios. 

Apesar disso, segundo Osvaldo, “a presença dele no Estado é bem maior: já ultrapassa uns 120 municípios”. Nos demais, ele costuma ser encontrado na zona silvestre.

 

Mapa do Ceará com focos do Aedes albopictus
Legenda: Cidades com presença do Aedes albopictus no meio urbano - Foto: Sesa-CE.

 

“Em área rural, não traz tanta preocupação porque é o habitat natural dele. Ele tem uma ecologia ali se alimentando de outros animais, e não do homem. Agora, a partir do momento que ele começa a invadir o ambiente urbano, isso nos traz preocupação”, afirma o orientador.

Até o momento, corrobora o boletim da Sesa, “embora a relevância como vetor de arboviroses urbanas no Brasil não esteja comprovada, seu comportamento de consumir sangue de diversas fontes o torna um possível vetor na transmissão de vírus silvestres para áreas urbanas, o que reforça a importância de seu monitoramento”.

Osvaldo aponta que esse processo de urbanização não é exclusivo do Ceará e vem ocorrendo em outros Estados do Brasil, possivelmente atrelado à maior ocupação dos espaços rurais pela população. Soma-se a esse fator a alta capacidade adaptativa do mosquito a ambientes modificados pelo homem.

“A partir do momento em que ele começa a ocupar os espaços urbanos, aumenta esse contato do homem com o vetor, aí traz essa preocupação”, ressalta.

Quais doenças o Aedes albopictus pode transmitir?

Ainda não há evidência, no Estado do Ceará nem no Brasil, de o Aedes albopictus estar implicado diretamente na transmissão das arboviroses. Porém, o orientador da Sesa afirma que testes em laboratório comprovaram sua competência para a transmissão da dengue, zika e chikungunya.

“É uma capacidade reduzida, digamos assim. O Aedes aegypti acaba sendo o principal vetor dessas arboviroses urbanas, mas ele também tem esse potencial, essa capacidade”, explica Osvaldo.

Como o inseto ainda está em processo de urbanização, “o contato com o homem talvez não seja tão grande ainda”. “Mesmo no ambiente urbano, ele está na margem, na periferia desses municípios”.

Os mosquitos são diferentes?

“Primos”, os dois mosquitos são morfologicamente parecidos e compartilham semelhanças. Ambos têm coloração escurecida com listras brancas pelo corpo.

A principal diferença, visível a olho nu, está no tórax. No Aedes aegypti, as listras têm um formato de lira; no Aedes albopictus, há uma linha longitudinal que vai da cabeça à posição final do dorsal. 

Do que o Aedes albopictus se alimenta?

Na alimentação, o Aedes albopictus é zoofílico e tem preferência por outros animais, como aves. Já o Aedes aegypti é antropofílico e tem preferência pelo sangue humano, utilizado para nutrir os ovos. Nos dois casos, só as fêmeas são hematóficas. Os machos se alimentam da seiva de plantas.

Que horas o mosquito ataca?

As duas espécies apresentam hábitos diurnos e têm maior atividade em dois períodos: no início da manhã e no fim da tarde

Onde o mosquito põe ovos?

Mais presente na área rural, o mosquito busca criadouros naturais, como ocos de árvores e flores como bromélias. 

Já nas cidades, ocupa os mesmos espaços do Aedes aegypti e põe ovos nas bordas de recipientes. “Não na mesma proporção, em menor proporção, mas ele começa a ocupar os mesmos espaços, por isso esse cuidado que nós temos de acompanhar”, percebe Osvaldo.

Como combater os mosquitos?

Como os hábitos das duas espécies são muito semelhantes, as ações de controle direcionadas para o Aedes aegypti também servem para o Aedes albopictus, especialmente no período chuvoso.

A orientação da Cevet para todos os municípios, dado o aumento dos riscos de infestação e de transmissão dessas doenças com o acúmulo de água, é reforçar os trabalhos dos agentes de combate de endemias e a educação em saúde da população.

“É aquilo básico mesmo, cada pessoa cuidar do seu ambiente, não deixando acumular água em potenciais criadouros: jarro de planta, balde, tonel, caixas d'água. Ter o cuidado também com as lajes e calhas, porque principalmente nessas primeiras chuvas elas costumam ficar entupidas por folhas, então tem que ser limpas”, recomenda. 

O orientador é enfático: o serviço realizado pelos agentes de saúde com as visitas é extremamente importante, “mas a gente só consegue bons resultados quando tem uma participação efetiva da comunidade”.

Cidades onde o Aedes albopictus foi localizado (meio urbano):

  1. Alcântaras
  2. Alto Santo
  3. Amontada
  4. Aquiraz
  5. Aracati
  6. Aracoiaba
  7. Aratuba
  8. Aurora
  9. Barroquinha
  10. Bela Cruz
  11. Camocim
  12. Canindé
  13. Cariré
  14. Cariús
  15. Carnaubal
  16. Caucaia
  17. Chaval
  18. Choró
  19. Cruz
  20. Eusébio
  21. Farias Brito
  22. Fortaleza
  23. Frecheirinha
  24. General Sampaio
  25. Granja
  26. Groaíras
  27. Guaiúba
  28. Guaraciaba do Norte
  29. Hidrolândia
  30. Horizonte
  31. Ibiapina
  32. Ibicuitinga
  33. Iguatu
  34. Ipu
  35. Itapajé
  36. Jaguaribara
  37. Jucás
  38. Lavras da Mangabeira
  39. Limoeiro do Norte
  40. Maracanaú
  41. Marco
  42. Meruoca
  43. Moraújo
  44. Mulungu
  45. Ocara
  46. Pacajus
  47. Pacatuba
  48. Pentecoste
  49. Pindoretama
  50. Pires Ferreira
  51. Potengi
  52. Quixeré
  53. Reriutaba
  54. São Benedito
  55. São Gonçalo do Amarante
  56. São João do Jaguaribe
  57. Tabuleiro do Norte
  58. Tianguá
  59. Trairi
  60. Ubajara
  61. Varjota
  62. Viçosa do Ceará



(Diário do Nordeste)