Instituição segue realizando os atendimentos clínicos no local, conforme o provedor Vladimir Spinelli
A Santa Casa de Misericórdia de Fortaleza suspendeu os atendimentos de novos pacientes para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI), após enfrentar problemas financeiros. Em entrevista ao Diário do Nordeste, o provedor da instituição, Vladimir Spinelli, revelou que decisão foi tomada na última quinta-feira (5), e foi oficializada no dia 6 de junho.
A medida, tomada para manter a qualidade do serviço, também buscou evitar futuros riscos aos pacientes atendidos. No quadro atual de atendimento, a Santa Casa registra cinco pacientes no setor da UTI. Os atendimentos clínicos seguem sendo realizados mediante encaminhamentos.
“Essa decisão foi única e exclusivamente por conta da questão financeira. Não tivemos ainda desabastecimento de alimentação, de medicamentos, mas estamos tendo dificuldade de enxovais e, a cada dia, corremos o risco de desabastecimento de medicamentos e alimentos. Sabemos o caos que isso gera e não vamos permitir”, revelou Vladimir.
Segundo o provedor da Santa Casa, o desejo da instituição é retornar o atendimento o mais breve possível. No entanto, isso só pode ocorrer caso consigam solucionar o atual déficit de verbas que a instituição enfrenta.
Questões financeiras
Em meio à suspensão nos atendimentos, Vladimir revelou que planeja uma reestruturação da Santa Casa, visando a sustentabilidade da instituição. "Mas, para isso, nós precisamos ter algum aporte de recursos para conseguirmos voltar normalmente", disse. Essa contribuição adicional de recursos seria utilizada para minimizar as dívidas.
“Existe uma defasagem na tabela SUS. A gente recebe muito menos por cada processo que realiza. Por exemplo, o SUS paga R$ 996,34 para uma cirurgia de vesícula, mas o custo que a gente tem na Santa Casa é R$ 2.413,20. Cada vez que faz uma cirurgia, tem que ir atrás de mais R$ 1.500 para ir atrás do que a gente fez”.
Nesta segunda-feira (9), representantes da Santa Casa tiveram uma reunião com a titular da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Riane Azevedo, a convite da própria secretária. “Expusemos um quadro completo para mostrar porque a gente tinha chegado desse ponto". Segundo Vladimir, eles buscam ajuda do poder público para cobrir essa defasagem.
Em nota ao Diário do Nordeste, a SMS revelou que foi realizada uma conversa inicial apenas para compreender o cenário da Santa Casa, mas que não foi debatido qualquer detalhe sobre valores ou envio de dinheiro.
Eles ainda acrescentaram que não há débitos pendentes com a Santa Casa de Misericórdia. "Somente em 2025, o poder público municipal repassou mais de R$ 22 milhões à instituição, sendo o último pagamento realizado na primeira semana de junho, no valor aproximado de R$ 2 milhões", afirmou a SMS.
Queda no atendimento
A instituição sofreu uma grande queda no atendimento, impactados principalmente pelo cenário da pandemia de Covid-19, em 2020. Em 2019, em termos de atendimento de exames de diagnóstico, foram atendidas 292 mil pessoas. Já em 2024, esse número caiu para 26 mil, conforme Vladimir.
Além disso, foram realizadas 18 mil cirurgias em 2019, que caiu para 7 mil cirurgias em 2024. “Temos potencial muito grande de atendimento, mas a gente não está conseguindo atender por essas questões financeiras”.
Santa Casa de Misericórdia de Fortaleza
A Santa Casa de Misericórdia funciona na Rua Barão do Rio Branco, Centro da Capital. Ela começou a ser construída há quase 200 anos, entre 1845 e 1847, com investimento voluntário de personalidades de Fortaleza, para ser um Hospital de Caridade.
Desde então, a Santa Casa serve como um apoio à assistência à saúde da população com menos recursos e sobrevive de convênios e donativos.
Para contribuir com a instituição, é possível realizar doação ao e-mail financeiro@santacasace.org.br, que é a chave do Pix da Santa Casa.
Na semana passada, foi realizada uma campanha solidária liderada pela ACERT em apoio à Santa Casa de Fortaleza, que registrou um aumento nas doações via Pix.
*Diário do Nordeste
