As facções criminosas PCC e GDE destinaram R$ 300 mil em um plano para matar Ladislau Pereira da Silva, o 'Lau''

Um dos principais líderes da facção carioca Comando Vermelho (CV) em Icó, Interior do Ceará, tem ligação direta com a atual gestão da cidade. Por meio de documentos oficiais, a reportagem do Diário do Nordeste apurou que Ladislau Pereira da Silva, o 'Lau', preso em junho deste ano, é quem fornece medicamentos por meio de contratos milionários com a Secretaria da Saúde Municipal.
A Polícia Civil do Ceará (PCCE) aponta que Ladislau representa a "influência velada, a inteligência estratégica e a logística que se beneficia de uma fachada de legitimidade para proteger e expandir as operações do grupo", se referindo à atuação da facção na região.
A reportagem entrou em contato com a Prefeitura de Icó e aguarda resposta.
Investigações indicam que ainda no ano passado as facções Guardiões do Estado (GDE) e Primeiro Comando da Capital (PCC) se uniram em Icó em um plano para assassinar Ladislau. Um dos membros da GDE teria prometido R$ 300 mil em troca da morte do rival.
Quando preso em junho, a PCCE divulgou que o homem foi alvo da 'Operação Apófis' deflagrada para desarticular grupos criminosos envolvidos com tráfico de drogas, exploração do jogo do bicho, roubos, extorsões e homicídios nos municípios de Icó e Orós.
PROPRIETÁRIO DE FARMÁCIA
Ladislau é um dos sócios administradores da Farmácia Anabelly, empresa com a qual a anterior e a atual gestão de Icó mantêm contratos de fornecimento de medicamentos originais e genéricos.
A reportagem do Diário do Nordeste consultou e teve acesso a contratos desde o ano de 2021, entre a farmácia e a Secretaria da Saúde. O contrato mais recente ultrapassa o valor de R$ 1 milhão e está firmado para, pelo menos, até junho de 2026, podendo ser prorrogado.
O valor total em contratos desde 2021 chega a aproximadamente R$ 6 milhões
Nas redes sociais, a farmácia postou nota ressaltando que existe há 12 anos “pautada na ética, responsabilidade e compromisso”.
“Esclarecemos que participamos de processos licitatórios públicos de forma legal e transparente, conforme determina a legislação brasileira. Repudiamos com veemência tais acusações caluniosas que atentam contra a honra e a reputação de uma empresa construída com muito trabalho e respeito”
'A TROPA DO CHAVES'
De acordo com documentos oficiais, o grupo de Ladislau em Icó é conhecido como 'A Tropa do Chaves'. O empresário passou a ser investigado há pelo menos dois anos, quando o CV divulgou 'salves' comunicando publicamente que Icó agora era território dominado pelo grupo carioca: "foram solicitadas algumas medidas cautelares de quebra de dados telefônicos e telemáticos", de acordo com a PCCE.
Ladislau tem alto escalão hierárquico na cidade, "sendo classificado por facções rivais como o "02" do Comando Vermelho na região. Oriundo de uma família com posses e conexões na sociedade local, Lau Neto adotou uma sofisticada estratégia de dissimulação, cultivando uma fachada de cidadão respeitável e empresário para ocultar seu profundo e duradouro envolvimento com a orcrim", segundo a investigação.
"Sua função primordial é a de mentor estratégico e provedor de suporte logístico, disponibilizando suas propriedades como bases operacionais e refúgio para os executores de homicídios ("vaqueiros") a serviço da facção. A confirmação de sua identidade como a enigmática figura de "Chaves", signatário de comunicados de guerra da orcrim, foi estabelecida por meio de uma complexa análise de vínculos telemáticos e telefônicos, esmiuçada"
Lau ainda usou da sua influência "para se infiltrar em ‘comércios lícitos’ – a exemplo da instalação de parques de vaquejada e o controle de lotéricas – como uma provável fachada para lavagem de dinheiro e legitimação de seu poder econômico e social na região".
MORTE ENCOMENDADA
A atuação do Comando Vermelho em Icó incomodou os grupos rivais. Enquanto a facção carioca tomava o controle territorial para o tráfico de drogas, a GDE e o PCC traçaram a morte de 'Lau Neto'.
O Ministério Público do Ceará (MPCE) denunciou Cosme Henrique Maia Bezerra, o 'Gordão', João Henrique de Oliveira Mendonça Leal e José Itamar Felipe Silva, o 'Neguim' por integrar a organização Guardiões do Estado, "atuando como 'vaqueiros' (matadores) da organização criminosa, sendo responsáveis por executar o plano de assassinar o investigado Ladislau Pereira da Silva Neto".
O crime teria sido encomendado por Márcio Saldanha da Silva, membro do PCC, que recebeu R$ 300 mil para viabilizar a execução "tendo repassado tal missão para membros da GDE com os quais mantêm comunicação, apesar de ser de outra organização criminosa".
*Diário do Nordeste