Brasil é bicampeão mundial com Garrincha
Garrincha foi o destaque da seleção brasileira que atravessou os Andes
para defender a Taça Jules Rimet no Chile em 1962. Amarildo, Zito e Vavá
marcaram os gols que derrotaram a Tchecoslováquia na final, mas não há
dúvidas sobre quem foi o verdadeiro herói do bicampeonato do Brasil na
Copa do Mundo da FIFA. No auge da carreira, aos 25 anos, Garrincha foi
descrito pelo jornal francês "L'Equipe" como "o ponta-direita mais
extraordinário que o futebol já conheceu."
O plantel brasileiro trazia nove jogadores campeões mundiais em 1958,
mas sob o comando de um novo treinador, Aymoré Moreira, que assumiu
depois que Vicente Feola deixou o cargo por problemas de saúde. Aymoré
era irmão de Zezé Moreira, que havia dirigido o Brasil em 1954 na Suíça.
O novo treinador montou um 4-3-3 e a seleção estreou com vitória de 2 a
0 sobre o México, gols de Zagallo e Pelé.
A partida contra os mexicanos acabou sendo a última disputada por Pelé
naquela edição da Copa do Mundo da FIFA. No segundo jogo do Brasil,
contra a Tchecoslováquia, o atacante de 21 anos deixou o campo com uma
lesão na coxa esquerda. Para ele, o mundial tinha chegado ao fim. Mas
com os dribles mágicos e o poder ofensivo do craque Garrincha, a
contribuição importante de Zagallo — futuro campeão mundial como técnico em 1970 —,
e Amarildo, que teve a honra e a responsabilidade de substituir Pelé,
os brasileiros conseguiram superar a ausência do seu camisa dez.
A Batalha de Santiago
O Chile havia ganhado o direito de sediar a Copa do Mundo da FIFA antes da vizinha Argentina. Apesar de o país anfitrião haver sofrido o maior terremoto do século 20 dois anos antes, o torneio começou a ser disputado no dia 30 de maio de 1962 em quatro cidades-sedes: Santiago, Viña Del Mar, Rancagua e Arica. Com o deslumbrante cenário das montanhas cobertas de neve da Cordilheira dos Andes ao fundo, o novo Estádio Nacional de Santiago foi também o palco de uma das partidas mais violentas da história do futebol mundial na primeira fase, quando o Chile enfrentou a Itália.
O Chile havia ganhado o direito de sediar a Copa do Mundo da FIFA antes da vizinha Argentina. Apesar de o país anfitrião haver sofrido o maior terremoto do século 20 dois anos antes, o torneio começou a ser disputado no dia 30 de maio de 1962 em quatro cidades-sedes: Santiago, Viña Del Mar, Rancagua e Arica. Com o deslumbrante cenário das montanhas cobertas de neve da Cordilheira dos Andes ao fundo, o novo Estádio Nacional de Santiago foi também o palco de uma das partidas mais violentas da história do futebol mundial na primeira fase, quando o Chile enfrentou a Itália.
O clima ficou quente depois que os italianos Giorgio Ferrini e Mario
David receberam cartões vermelhos. A expulsão de David aconteceu após
uma entrada com o pé alto em Leonel Sanchez, em retaliação por um soco
desferido pelo chileno, filho de pugilista, que havia quebrado o nariz
de Umberto Maschio, um dos sul-americanos naturalizados da Itália. "A
mais estúpida, pavorosa, repugnante e deplorável exibição de futebol",
no veredito da rede britânica "BBC". Só para constar, o Chile venceu por
2 a 0.
Assim como a Itália, a Espanha do técnico Helenio Herrera, que dois anos mais tarde conquistaria a Europa com a Inter de Milão, também foi eliminada na primeira fase. Com vários craques do Real Madrid — entre eles Ferenc Puskas, que havia jogado pela seleção da Hungria em 1954 e agora defendia a camisa espanhola —,
os espanhóis foram para a útima partida da fase de grupos precisando de
um resultado positivo contra o Brasil para avançar às quartas-de-final
do torneio.
Amarildo abre o caminho
O encontro entre Brasil e Espanha foi provavelmente o jogo mais interessante da rodada (apesar de menos emocionante que a recuperação da Colômbia, que perdia por 4 a 1 até os 22 minutos do segundo tempo e empatou em 4 a 4 com a União Soviética). Puskas armou para Adelardo Rodriguez marcar e, com a seleção brasileira confusa com o ferrolho de Herrera, os espanhóis se encheram de esperança. Mas os dois gols de Amarildo, o segundo a apenas quatro minutos do apito final, selaram a derrota da Espanha por 2 a 1 e levantaram a dúvida: por que Alfredo Di Stefano — se recuperando de contusão, mas aparentemente brigado com Herrera — não havia jogado nenhuma partida no Mundial?
O encontro entre Brasil e Espanha foi provavelmente o jogo mais interessante da rodada (apesar de menos emocionante que a recuperação da Colômbia, que perdia por 4 a 1 até os 22 minutos do segundo tempo e empatou em 4 a 4 com a União Soviética). Puskas armou para Adelardo Rodriguez marcar e, com a seleção brasileira confusa com o ferrolho de Herrera, os espanhóis se encheram de esperança. Mas os dois gols de Amarildo, o segundo a apenas quatro minutos do apito final, selaram a derrota da Espanha por 2 a 1 e levantaram a dúvida: por que Alfredo Di Stefano — se recuperando de contusão, mas aparentemente brigado com Herrera — não havia jogado nenhuma partida no Mundial?
Esta foi a primeira Copa do Mundo da FIFA em que não houve partidas de
desempate para decidir quem avançaria à etapa seguinte, caso o segundo e
o terceiro colocados de um grupo terminassem com o mesmo número de
pontos. Com base na média de gols, os ingleses se classificaram à frente
dos argentinos, a quem derrotaram por 3 a 1, mas perderam para o Brasil
pelo mesmo escore nas quartas-de-final. O atacante inglês Jimmy Greaves
parou um cachorro que invadira o campo, mas não havia como parar
Garrincha. Ele abriu o marcador com um gol de cabeça, cobrou a falta que
acabou deixando a bola nos pés de Vavá depois da defesa parcial do
goleiro Ron Springett e fechou a contagem com um belo chute de fora da
área.
Na semifinal o Brasil derrotou os anfitriões por 4 a 2. Garrincha e Vavá
balançaram as redes duas vezes cada um, calando os 80 mil torcedores
presentes no Estádio Nacional. A seleção chilena, que terminaria com o
terceiro lugar, havia superado os soviéticos nas quartas-de-final, uma
das surpresas do torneio. As várias intervenções do guarda-metas Vilem
Schroif e a própria trave ajudaram a Tchecoslováquia a derrotar a
Hungria, enquanto a Iugoslávia eliminou a Alemanha Ocidental — que
havia sido algoz dos iugoslavos nas edições de 1954 e 1958.
Desapontados, os alemães solucionariam o problema com a criação da
Bundesliga no ano seguinte.
Masopust abre o placar
A sorte da Iugoslávia se esgotou na semifinal contra a Tchecoslováquia. Schroif brilhou novamente e Adolf Scherer marcou duas vezes, garantindo a vitória de 3 a 1 sobre os iugoslavos.
A sorte da Iugoslávia se esgotou na semifinal contra a Tchecoslováquia. Schroif brilhou novamente e Adolf Scherer marcou duas vezes, garantindo a vitória de 3 a 1 sobre os iugoslavos.
Os comandados de Rudolf Vytlacil haviam empatado com o Brasil na
primeira fase, mas na final eram claramente os azarões. A notícia de que
Garrincha estava à disposição de Aymoré Moreira depois de ter sido
expulso na semifinal não ajudava em nada a Tchecoslováquia. Mesmo assim,
chegando à decisão do mundial depois de uma ausência de 24 anos, os
tchecos abriram o marcador aos 15 minutos do primeiro tempo com Josef
Masopust, o grande meio-campista que receberia o prêmio Bola de Ouro da
revista "France Football" no final daquele ano. Masopust correu para
receber o passe de Scherer e empurrar a bola para o fundo das redes.
A vantagem durou pouco, porém. Dois minutos depois do gol de Masopust,
Amarildo enganou o goleiro Schroif com um chute quase sem ângulo pelo
lado esquerdo. Aos 24 do segundo tempo, Amarildo cruzou para Zito
arrematar de cabeça, virando o jogo para os brasileiros. Depois da falha
de Schroif em uma bola lançada na área, Vavá selou a vitória por 3 a 1 e
juntou-se a Garrincha e outros quatro jogadores na artilharia do
torneio — o chileno Sanchez, o húngaro Florian Albert, o
soviético Valentin Ivanov e o iugoslavo Drazen Jerkovic. Todos eles
marcaram quatro gols e dividiram a Chuteira de Ouro, mas a Copa do Mundo
da FIFA era incontestavelmente do Brasil mais uma vez.