Curativo biológico tem vantagens em relação ao tratamento usual. Pesquisa inédita é desenvolvida em hospital e universidade desde 2014.
Pele de tilápia pode servir como curativo em tratamento de queimaduras (Foto: Reprodução/TV Globo)
Trinta pacientes do Centro de Queimados do Instituto Dr. José Frota (IJF), em Fortaleza,
recebem tratamento inédito: um curativo biológico desenvolvido a partir
da pele do peixe tilápia como alternativa no tratamento de lesões das
queimaduras. O estudo, desenvolvido por pesquisadores do Ceará,
Pernambuco e Goiás, oferece inúmeras vantagens frente ao tratamento
tradicional, de acordo com o cirurgião plástico coordenador da pesquisa,
Edmar Maciel.
"Na rede pública do Brasil, o tratamento de queimaduras é feito com uma
pomada ou creme a base de sulfadiazina de prata, que é um
antimicrobiano. Essa pomada só age por 24 horas e a cada 24 horas tem
que ser removida, num processo de limpeza da área com sabão apropriado e
um curativo. Isso causa dor ao pacienteque tem de tomar anestesia ou
analgésicos, interferindo no processo de cicratização", explica o
médico.
"O que a pele faz, e isso não é específico da pele da pele da tilápia -
outras peles como a humana, como a pele do cão, do porco - é aderir ao
leito da ferida. Grudando, faz um tamponamento do leito e, com isso,
evita a contaminação de fora prara dentro da ferida. Isso evita quue o
paciente perca líquidos (plasma e proteína) e, com isso, não espolie o
paciente. Aí sim, diminui a troca de curativos, a dor e o trabalho da
equipe - que não tem que fazer limpeza e curativos diariamente - e,
consequentemente, os custos do tratamento", ressalta.
Segundo o médico, na Europa e Estados Unidos o tratamento de queimados
já é feito com pele homóloga (humana) ou heteróloga (animal). Mas o
desenvolvimento de um curativo biológico com base em animais aquáticos é
inédito no mundo e já se encontra na segunda fase clínica, com testes
em seres humanos, no tratamento de pacientes do Núcleo de Queimados do
IJF. A pesquisa vem sendo realizada há mais de dois anos, no Núcleo de
Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos (NPDM) da Universidade
Federal do Ceará (UFC).
De acordo com os persquisadores, logo nas primeiras etapas do estudo, a
utilização clínica do pele da tilápia mostrou-se promissora, tendo em
vista as semelhanças do material com a pele humana, como grau de
umidade, alta qualidade de colágeno e resistência. Testes em animais
terrestres também descartaram possíveis riscos de contaminação com a
nova técnica.
Anvisa
Foram onze etapas até a pesquisa ser apresentada à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), do MInistério da Saúde, em dezembro de 2015. A primeira etapa clínica da pesquisa, iniciada em humanos sadios para estudar se a pele de tilápia causava alergia ou sensibilidade, teve excelentes resultados, segudo os pesquisadores.
Foram onze etapas até a pesquisa ser apresentada à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), do MInistério da Saúde, em dezembro de 2015. A primeira etapa clínica da pesquisa, iniciada em humanos sadios para estudar se a pele de tilápia causava alergia ou sensibilidade, teve excelentes resultados, segudo os pesquisadores.
Após aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa da Anvisa, o estudo em
humanos queimados foi iniciado no IJF no segundo semestre deste ano. Dos
trinta pacientes com queimaduras de 2º grau que aceitaram receber o
novo tratamento, 23 já tiveram alta hospitalar. Até o final de 2016,
outros 30 deverão ser submetidos ao tratamento com o curativo biológico.
Fonte: G1 Ceará