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O presidente e o coveiro: caso Sérgio Moro

Por Antonio Vitorino




Na mesma semana em que se falou muito de coveiro, a saída de Sérgio Moro do Ministério da Justiça e Segurança Pública pode representar o início do enterro do governo de Jair Bolsonaro, pelo menos é o que apontam algumas análises políticas recentes feitas por jornalistas e cientistas políticos. Se isso se confirmar, estaremos diante de uma fina ironia do “destino” ou da política.

Muitos fatores contribuíram para a vitória de Bolsonaro na última eleição presidencial. Uma sempre apontada foi a atuação do então juiz Sérgio Moro na Operação Lava Jato, ao condenar o líder nas pesquisas eleitorais para a presidência da República, naquela ocasião, Luiz Inácio Lula da Silva, apesar das fragilidades, apontadas por inúmeros juristas renomados, quanto a materialidade das “provas” e das supostas irregularidades cometidas no processo.

A ironia está exatamente aí: a ação daquele que foi fundamental para a vitória do atual presidente pode ser igualmente o responsável pela sua saída. Sérgio Moro teria agido como Coveiro-mor.

Por que a situação é tão grave e pode levar ao impedimento do presidente? A questão não está apenas em uma troca de nomes de um ministério, apesar de Sérgio Moro ter sido o ministro mais bem avaliado no primeiro ano da gestão presidencial, mas pelas acusações graves que levantou. Em uma delas, acusou o presidente de interferir politicamente mais de uma vez na Polícia Federal, uma instituição de Estado e não de governo, para barrar investigações contra aliados e parentes.

Para piorar a situação, a acusação se deu na semana em que corriam notícias seguras de que a Polícia Federal havia supostamente descoberto que um de seus filhos estava na origem de notícias falsas e ataques ao Supremo Tribunal Federal, de ser operador do chamado “Gabinete do Ódio” e o mentor na convocação de manifestações públicas a favor do presidente, dias antes, que atacaram as instituições democráticas, pedindo intervenção militar e a volta do famigerado AI-5. 

A situação se agrava ainda mais porque o presidente participou das manifestações e discursou em palanque improvisado, em um claro afrontamento às instituições democráticas, colocando em risco o Estado de Direito, o que gerou, na ocasião, a animosidade e declarações contundentes de políticos, do STF, da OAB e do Legislativo Federal, por exemplo, contra o ato, levando a Procuradoria Geral da República a solicitar ao STF abertura de inquerido para apurar as manifestações. Neste caso e nas acusações feitas por Sérgio Moro, o presidente teria cometido inúmeros crimes e não apenas aquele de responsabilidade, passível, portanto, de impedimento, segundo a Constituição Federal.

Pela experiência de Sérgio Moro e o fato de ter sido juiz federal, deve não apenas saber mais do que ninguém que não se pode fazer acusações, sobretudo contra um chefe da nação, infundadas, mas ter provas, no mínimo, de todos as acusações, o que leva-nos a pensar que a situação pode se agravar ainda mais. 

Aquele que contribuiu para elevar o presidente ao Palácio do Planalto e que, como suposta recompensa, foi igualmente alçado a um de seus principais ministérios, com a promessa de ir ao STF, afrontado, parece ter sido o mesmo que, em momento de Pandemia, com uma pá na mão, deu início a abertura da cova política do chefe da nação.

O país, que desce a ladeira, se depara agora com três grandes crises: uma econômica, outra de saúde pública e uma terceira, política. Espero que o Brasil não caia, também, numa das covas abertas pelos coveiros da nação.