Um
homem de 33 anos morreu na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Gama,
no Distrito Federal, após ter um surto psicótico. Antônio Marcos passou
mal em frente a um comércio e imagens gravadas por testemunhas mostram o
homem amarrado durante o socorro, com os braços para trás e a cabeça
para baixo.
O
homem foi levado pelo Corpo de Bombeiros à UPA do Gama, no sábado (11).
A família reclama do atendimento e diz que Antônio foi mantido
amarrado, mesmo na unidade de saúde. Na madrugada de domingo (12), os
parentes receberam a notícia que ele tinha morrido.
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Em
nota, o Conselho Regional de Enfermagem do DF (Coren-DF) afirmou que a
imobilização ocorreu de forma inadequada. Já o Instituto de Gestão
Estratégica em Saúde do DF (Iges-DF), responsável pela UPA, diz que
recebeu o homem "contido mecanicamente em decorrência de agitação
psicomotora e extrema agressividade".
"Tal
conduta, apesar de chocante, por vezes é necessária até o efeito
desejado de medicações que controlem a agressividade (contenção
química)", diz o Iges-DF.
Segundo
o instituto, o homem sofreu uma parada cardiorrespiratória, e a equipe
tentou reanimá-lo por uma hora, mas não conseguiu. Afirmou ainda que
Antônio tinha histórico de surto pelo consumo de drogas, o que a família
nega.
O
Corpo de Bombeiros informou que, em alguns casos de surto psicótico, o
paciente pode se tornar agressivo e violento, se fazendo necessária a
imobilização dele para garantir a segurança do paciente, da equipe de
socorro e demais envolvidos. A corporação também disse que está apurando
o caso.
Surto psicótico
Testemunhas
gravaram, primeiro, o homem com o braço paralisado e dificuldade para
falar. Outras imagens mostram ele sendo contido por pessoas que passavam
pelo local e, em seguida, já imobilizado, na maca dos bombeiros.
Patrick
Pereira era primo de Antônio Marcos e foi o último a ver o homem com
vida. Segundo o parente, na tarde de sábado, Antônio pediu ajuda e,
quando o primo chegou ao local para buscá-lo, o homem conseguiu pegar o
carro e sair em disparada.
De
acordo com Patrick, o primo já tinha enfrentado episódios de surto.
"Ele já teve essa crise antes, duas vezes, mas tinha muito tempo que ele
não dava essa crise de não reconhecer nem familiar. Ele estava
irreconhecível", diz.
Quando
Patrick conseguiu reencontrar o primo, ele já estava sendo contido.
Segundo o parente, Antônio estava com pernas e braços amarrados,
ofegante e se debatendo. A equipe de socorro então pediu para que o
familiar se afastasse, para que o homem se acalmasse.
Ele
afirma ainda que, na UPA, a equipe não permitiu a presença de um
acompanhante. Antônio Marcos deixou mulher e uma filha, de seis anos.
Abordagem
Para
o Conselho Regional de Enfermagem do DF, é preciso analisar a situação
com cautela, mas os vídeos permitem identificar falhas na ação.
"Como
se trata de uma emergência psiquiátrica, é necessário avaliar o
contexto que levou a essa situação. Contudo, pela imagem, pode-se
concluir que essa não é a maneira adequada de imobilizar o paciente",
diz, em nota.
"Além
de ser violenta e extremamente desconfortável, pode prejudicar a
circulação sanguínea da pessoa. Esse tipo de abordagem deve ser
humanizada e profissional. O caso deve ser apurado rigorosamente.
Ninguém merece ser tratado dessa forma", continua o Coren-DF.
O que diz o Iges-DF
Segundo
o Iges-DF, o homem "foi atendido prontamente na UPA, sendo tomadas
todas as medidas clínicas para a assistência médica. Infelizmente, o
paciente evoluiu para o óbito, apesar de todo o esforço da equipe".
"Cabe
ressaltar que o Iges-DF se solidariza com a dor da família, mas reforça
a necessidade das devidas apurações, incluindo o laudo final da
necrópsia, para formar uma opinião médica final sobre essa ocorrência,
vistos os registros de acontecimentos que antecederam a chegada do
paciente a UPA", diz o instituto.