O policial militar foi indiciado pela Polícia Civil por homicídio. Em outra ação penal, o PM foi denunciado pelo Ministério Público do Ceará por estelionato e associação criminosa

Um soldado da Polícia Militar do Ceará (PMCE) é alvo de pelo menos dois processos criminais, na Justiça Estadual, por matar o próprio tio e por participar de um esquema criminoso de apropriação de veículos que eram alugados. O PM responde aos crimes em liberdade, mas está afastado das funções na Corporação para tratamento de saúde.
A reportagem tentou contato com a defesa do militar no inquérito de homicídio, mas a defesa não foi localizada. O espaço segue aberto para futuras manifestações. No processo por estelionato e associação criminosa, o advogado de defesa que atua no caso alega que o militar é inocente e vítima do golpe.
Em publicação no Diário Oficial do Estado (DOE) da última sexta-feira (8), a Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário do Ceará (CGD) instaurou um Conselho de Disciplina contra o soldado Kaio Willian Rosa Costa, "com o fim de apurar as condutas transgressivas que lhe são atribuídas, bem como, a incapacidade deste para permanecer nos quadros da Corporação Militar a qual pertence".
Conforme a publicação, Kaio Willian foi indiciado pela Polícia Civil do Ceará (PCCE) por suspeita de participar do homicídio doloso que vitimou o tio dele, Cleiuson Rosa Santiago, em Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), no dia 25 de setembro de 2017 - há quase oito anos.
Cleiuson foi encontrado morto, dentro de um táxi, modelo Chevrolet Spin, na Estrada da Tucunduba. Mais informações sobre o crime não foram divulgadas pela CGD. O processo criminal tramita sob sigilo de justiça.
Apropriação de carros alugados
O soldado Kaio Willian Rosa Costa e três mulheres foram denunciados pelo Ministério Público do Ceará (MPCE) por três crimes de estelionato, uma tentativa de estelionato e associação criminosa, no dia 24 de maio de 2021.
A denúncia foi recebida no dia seguinte pela Justiça Estadual, e os acusados viraram réus - Kaio Willian, Carolina Carla Gomes Souza (namorada do PM), Joenya Kerbia Gondim de Miranda e Socorro Monteiro da Silva.
Conforme a denúncia do MPCE, Joenya e Socorro alugavam carros pelas redes sociais e repassavam os veículos para Kaio e Carolina, deixando os reais proprietários com o prejuízo financeiro.
A Delegacia de Roubos e Furtos de Veículos e Cargas (DRFVC), da Polícia Civil do Ceará (PCCE), chegou à suposta quadrilha após a denúncia de um proprietário de um veículo Chevrolet Onix, de cor branca, que ofereceu o veículo para aluguel em grupos das redes sociais Facebook e WhatsApp e o alugou para Socorro Monteiro.
A suspeita também teria tentado alugar outro veículo, também Chevrolet Onix - este de cor preta. No local marcado com o proprietário, Socorro e Joenya Kerbia foram abordadas pelos policiais civis. As mulheres assumiram que alugavam os veículos para receberem R$ 1 mil, cada, e repassarem os carros a um casal, identificado como Carla e Costa.
O aprofundamento da investigação da Polícia Civil chegou a Carolina Carla e o namorado, o PM Kaio Willian Costa, que seriam os líderes do esquema criminoso, conforme as investigações. Com o casal, foi encontrado um veículo Hyundai HB20, de cor vermelha, fruto de roubo.
R$ 11 mil
foi o valor informado por Carolina Carla à Polícia Civil para comprar os veículos repassados por Socorro e Joenya. Carolina negou que liderava o esquema criminoso e "negou ter conhecimento da origem ilícita dos veículos, afirmando que, se soubesse, não os teria adquirido", segundo a denúncia do MPCE.
O policial militar endossou a versão da namorada. Conforme a denúncia, o PM afirmou que "Socorro teria dito a ele que o veículo ONIX branco tinha uma dívida de R$ 45.000,00, restrição judicial no RENAJUD e restrição administrativa no DETRAN e que o veículo HB20 vermelho tinha uma dívida de R$ 30.000,00 e restrição administrativa junto ao banco".
"(Kaio) Declarou que chegou a consultar as placas dos veículos junto ao DETRAN e que fez uma 'vistoria' visual e tátil nos sinais identificadores dos carros, além de analisar a documentação apresentada. Informou que não fechou imediatamente o negócio, pois exigiu uma procuração direta das pessoas que financiaram o veículo. Afirmou que o intuito do casal era adquirir os veículos, pagar as dívidas e, depois, revendê-los", completou.
Segundo o Portal da Transparência do Governo do Ceará, o soldado Kaio Willian Rosa Costa está afastado das funções na Polícia Militar do Ceará desde o dia 2 de junho deste ano.
[Atualização: 13/08/2025, às 8h44] Após o fechamento da matéria, a Polícia Militar informou, em nota, que "o policial em questão está afastado do serviço em razão de gozo de licença para tratamento de saúde própria. A PMCE reforça que não compactua com desvios de conduta por parte de seus integrantes e repudia qualquer ação que contrarie os valores e deveres da corporação".
O que dizem as defesas
A defesa do policial militar Kaio Willian Rosa Costa, representada pelo advogado Ivan Marques no processo de estelionato e associação criminosa, alegou que o cliente e a companheira queriam comprar um carro e procuraram pelo veículo em várias lojas, até recorrerem às buscas pela internet.
Há farta documentação em anexo comprovando cuidados prévios à aquisição dos veículos, incluindo os documentos pessoais da vendedora - algo estranho para pessoas de uma mesma associação criminosa, como levianamente acusado pelo MP - incluindo cuidados documentais que não são praxe de estelionatários e criminosos, expondo o absurdo de ter sido oferecida denúncia em face de Kaio, que na verdade foi vítima dessa organização criminosa e teve vultoso prejuízo ainda não reparado."
A defesa de Carolina Carla Gomes Souza reforçou que ela "e seu noivo entraram em contato com as vendedoras dos veículos, desconhecendo que os mesmos eram objeto de locação e, que estavam sendo oferecidos em venda indevidamente".
"Saliente-se que, no decorrer da instrução da ação, restará provado e comprovado que, se vítimas existem, foram a respondente e seu noivo que, perderam quantias significativas de dinheiro, conforme se comprova por via de extratos bancários", completou a defesa de Carolina Carla.
Já a defesa de Joenya Kerbia Gondim de Miranda e de Socorro Monteiro da Silva sustentou, na Defesa Prévia do processo, que os fatos "não ocorreram da forma narrada na denúncia, o que será devidamente provado durante a instrução" e pediu pela "absolvição sumária pela simples falta de fundamentação concreta". "Ademais a acusada resguarda-se no direito de apresentar sua tese de defesa ao final do processo", acrescentou.
*Diário do Nordeste