No Ceará, em Santa Quitéria, a maior mina de urânio do
País. Junto ao urânio, vem o fosfato – como eles muitas mãos pelas quais
se cavam um projeto de mineração exploratória. Pelas mãos do
agronegócio se demanda a produção de fertilizantes a base de fosfato.
O
mesmo agronegócio que projetou o Brasil como campeão mundial em consumo
de agrotóxicos, utilizando substâncias banidas na União Europeia e
provocando imensos riscos à saúde.
Essa mina de incertezas e riscos à saúde humana quer nos conduzir às
mãos de um consórcio formado por uma estatal e uma empresa privada,
cujas ações (60%), pertencem a um grupo norueguês.
Na Noruega,
entretanto, não se admite a matriz nuclear. Áustria, Suécia, Itália,
Austrália, Dinamarca, Grécia, Irlanda, Polônia, Bélgica, Alemanha,
Holanda, Espanha e Suécia também já pararam reatores ou anunciaram as
intenções de abandonar a energia nuclear.
Mãos imprudentes anunciam a retomada do projeto nuclear brasileiro,
apesar de pesquisas registrarem 174 acidentes ou incidentes nucleares no
mundo. As mesmas mãos da empresa que quer explorar a mina de Santa
Quitéria, vemos as tragédias de Caetité/BA: vazamento de 5.000 m³ de
licor de urânio para o ambiente; sete transbordamentos da bacia de
barramento, liberando urânio, tório e rádio 226; rompimento em mantas da
bacia de contenção, morte de peixes, alimentos contaminados, população
com 19 vezes mais casos de câncer.
Nesse cenário, o Estado funciona também como mão amiga para a empresa
mineradora: mesmo em tempos de crise sistêmica garante a infraestrutura
para a obra – adutora, linhas de transmissão de energia e escoamento da
produção.
Enquanto as comunidades do sertão central cearense sofrem com a
seca, o projeto irá consumir 917, 9m³ por hora, equivalente a 115
carros-pipa por hora. A água será retirada do açude Edson Queiroz, em
situação crítica, com apenas 15,23% da capacidade.
Alega-se que o projeto vai gerar empregos, mas nos 20 anos de operação,
só 515 funcionários diretos e outros 120 terceirizados. Qual a segurança
e qualidade de vida destes trabalhadores? Uma mina de heranças que
ficarão.
Uma pilha de rejeitos da dinamitização da mina, com altura de
90 metros de um material que mantém 85% da radioatividade original. Uma
pilha de fosfogesso, com 70 metros de altura. Tudo isso a céu aberto.
Que desenvolvimento é este? Restam-nos insistir em outras mãos: repletas
de vontade para rejeitar o projeto de mineração de urânio em Santa
Quitéria e que afirmem que não aceitaremos os riscos e a insegurança da
iniciativa. Mãos de resistência.
Talita Furtado é assessora parlamentar, advogada da Rede Nacional de Advogadas e Advogados Populares (Renap) e integrante do Núcleo Tramas.
Fonte: A Voz de Santa Quitéria